São Paulo, domingo, 21 de agosto de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Os presidenciáveis e o debate

LUÍS NASSIF

O debate dos presidenciáveis, na TV Bandeirantes, foi importante, primeiro, por introduzir um padrão de civilidade de primeiro mundo na campanha. Demonstrou ser possível críticas duras entre candidatos, sem colocar a mãe no meio.
Para os garimpadores de tendências, permitiu uma definição mais clara dos rumos da campanha daqui por diante.
Fernando Henrique Cardoso parece ter encontrado o tom correto para seu discurso. Nas primeiras semanas, ainda mal nas pesquisas, passava uma ansiedade maldisfarçada, que podia ser confundida com arrogância.
O crescimento da candidatura dotou-o de tranquilidade, permitindo-lhe verbalizar promessas com naturalidade. Num país anglo-saxão, as promessas seriam confrontadas com sua atuação como ministro, o que provavelmente liquidaria com sua candidatura. No país do carnaval, o sucesso político do Plano Real tem sido tão intenso que as promessas ganham vida própria.
Já o candidato Lula demonstrou ainda não ter encontrado a forma de escapar da sinuca de bico do Real. Não pode criticar o Real, porque perde votos; não pode poupá-lo, porque não ganha votos.
Essa indecisão faz com que Lula não consiga sequer raciocinar como futuro presidente. Indagado se defenderia o fim da estabilidade de emprego, para permitir o aumento da eficiência do Estado, Lula respondeu que "enquanto permanecer esse modelo político, defendo a estabilidade". Mas ele pretende ser eleito presidente da República não é justamente para mudar o modelo?
O ex-governador Leonel Brizola exibiu um "fairplay" inigualável, uma tranquilidade inédita, própria de quem considera ter cumprido sua missão –não de quem ambiciona disputar a Presidência da República. Parece ter encontrado novas atrações na vida, fora da busca obsessiva da presidência.
Situação oposta era a do ex-governador paulista Orestes Quércia, um candidato solitário. Quércia passou três meses levando tombos e três meses alimentando os correligionários com a fantasia de que, assim que começasse o horário gratuito, sua situação mudaria. A constatação de que nada mudou foi fatal para seu ânimo.
Espiridião Amin parece o mais articulado dos candidatos. Tem visão objetiva sobre as questões essenciais, do modelo político ao federalismo. Teoriza a partir de experiências concretas –trilhando caminho inverso do de FHC.
Mesmo assim, além do carma de carregar a antiga Arena nas costas, fica claro que marca apenas presença para futuras participações no jogo político.

Texto Anterior: O SOBE E DESCE
Próximo Texto: Fim do ganho inflacionário pode levar bancos a prejuízo
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.