São Paulo, domingo, 21 de agosto de 1994
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Medo da denúncia vazia pressiona inquilino

TELMA FIGUEIREDO
DA REPORTAGEM LOCAL

A ameaça da denúncia vazia está pressionando inquilinos a negociarem valores de aluguel bem acima do que determina o cálculo de conversão pela média estipulado na MP 566, editada pelo governo.
"O inquilino está num beco sem saída", diz Regina Bucco, 33, chefe de atendimento do Procon (Coordenadoria de Proteção e Defesa do Consumidor), órgão ligado à Secretaria da Justiça.
Foram tantas dúvidas e problemas gerados na conversão dos aluguéis, que o Procon teve trabalho extra em julho.
Segundo Regina, nesse mês cerca de 23 mil pessoas procuraram a entidade para solucionar questões relativas à locação. O número de atendimentos foi bem maior que o registrado nos meses anteriores.
O Procon desenvolveu um programa de informática específico para a conversão dos aluguéis, em que o cálculo é feito em segundos.
Quando o dono ou a imobiliária se nega a aceitar o pagamento do valor calculado pela média, a orientação do Procon é que se faça o depósito do aluguel em juízo.
Para que fique comprovada a recusa, é preciso que o inquilino tente fazer o pagamento, acompanhado de duas testemunhas.
"Só então ele deve procurar um advogado para encaminhar uma ação de consignação em pagamento, quando será determinado depósito em juízo", diz Regina.
Mas, segundo ela, o que normalmente está acontecendo quando o Procon aconselha essa atitude, é o locatário insistir em obter orientações para um acordo.
"Por ser refém da denúncia vazia e como os aluguéis iniciais hoje estão muito altos, o inquilino acaba aceitando negociar aumento do valor de sua locação", diz.
Após o término dos contratos de 30 meses, pactuados depois da nova Lei do Inquilinato (em vigor desde dezembro de 91), se o dono pedir o imóvel, o locatário tem apenas 30 dias para desocupação.
Vencido o prazo, o proprietário pode entrar com uma ação de despejo com base na denúncia vazia.
Mesmo com esse risco, o Procon não aconselha acordos. "Mas quando o inquilino acha que solução é aceitá-lo, damos orientações para que ele não saia tão prejudicado na negociação", diz Regina.

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