São Paulo, domingo, 21 de agosto de 1994
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Estratégias para a internacionalização

DEMIAN FIOCCA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Ao longo de décadas, a limitada capacidade de importar do país veio preocupando os formuladores de política econômica. E manteve o comércio internacional do Brasil relativamente pequeno. O esforço exportador, o empenho de substituição de importações e de industrialização foram, nesse sentido, estratégias bem-sucedidas. Graças a essas transformações, à queda no preço do petróleo, e à redução dos juros internacionais o Brasil obteve, nos últimos anos, um alívio no balanço de pagamentos.
As perspectivas abertas por essa nova capacidade de importar e pelo dinamismo dos novos arranjos comerciais internacionais colocam na pauta do dia a política externa brasileira.
Organizado em maio de 1993 pelo Instituto Nacional de Altos Estudos, o seminário publicado no livro "A Nova Inserção Internacional do Brasil" traz um panorama do pensamento de diplomatas e economistas direta ou indiretamente envolvidos com o tema. Na busca de estratégias para o país, 11 textos discutem, alternadamente, aspectos institucionais do comércio e das iniciativas de integração –como o Mercosul e a então inconclusa Rodada Uruguai do Gatt– o desempenho das exportações e a diplomacia econômica.
Baseados nas características continentais do Brasil e na pauta de exportações já bastante equilibrada entre América do Norte, Europa, o pólo do Pacífico e, em menor medida, América Latina, os autores convergem na defesa do multilateralismo. Por outro lado, a pauta das exportações aos países da América, centrada em manufaturados, de maior valor agregado e dinamismo de demanda, sugere uma preferencialização do contingente nas políticas externas ativas do brasil.
A harmonização entre essas duas estratégias aparentemente conflitantes –preferencialização por um lado e multilateralismo por outro– é proposta com clareza no artigo de Pedro da Motta Veiga. O compromisso com o Mercosul e a negociação de uma agenda de liberalização com outros países americanos devem ser conduzidos de modo a manter o comércio aberto a nações de fora da região, recusando propostas excludentes em relação a terceiros.
Talvez por características próprias a um seminário, os autores apresentam considerações inconclusivas. Um pensamento estruturado e abrangente sobre o projeto de inserção do país aparece exclusivamente no artigo de Motta Veiga, que por isso tem maior alcance. Os trabalhos de Fritsch em parceria com Batista, Teixeira e Pombal traçam o cenário internacional e têm o mérito de trazer uma boa compilação de dados, ainda que a limitação a 1990 impeça que se capte e analise o expressivo crescimento dos fluxos do Mercosul a partir de 1991.
Apesar da qualidade do autor, o texto de Rubens Ricupero ressente-se do tempo transcorrido desde sua redação. A longa exposição sobre os possíveis desfechos da Rodada Uruguai e o desenho do chamado "super-Gatt" tornou-se obsoleta com a conclusão da Rodada e a criação da Organização Mundial do Comércio (LMC), que substituirá o Gatt a partir de 1995. A limitação dos dados a 1991 exclui da análise o crescimento dos investimentos externos na Argentina e do endividamento latino-americano nos últimos três anos.
Em que pese a cautela com que devem ser consideradas as palavras democracia e modernidade social, quando escritas –na introdução de Reis Velloso– por um ex-ministro do regime militar, merece reconhecimento o esforço de funcionários e quadros do setor público em desenvolver políticas de interesse da nação. Nesse sentido, destoa o artigo escrito por Antonio Monteiro de Castro. O texto é exclusivamente propagandístico da empresa da qual o autor é presidente.

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