São Paulo, domingo, 21 de agosto de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Ariane-5 deve subir em 1995

HELIO GUROVITZ
ENVIADO ESPECIAL A KOUROU

Está previsto para outubro de 1995 o lançamento do primeiro foguete Ariane-5, o sucessor do Ariane-4 que pôs em órbita este mês o satélite Brasilsat-B1.
O foguete da ESA (Agência Espacial Européia) deve ser capaz de colocar cargas de 6.800 kg numa órbita aparentemente parada em relação ao chão (órbita geoestacionária). São 2.600 kg a mais que a capacidade do Ariane-4.
A confiabilidade do novo foguete é estimada em 98,5% –a cada cem lançamentos, um e meio pode dar errado. Para o Ariane-4, o número é avaliado em 94%.
}O foguete foi inicialmente projetado para servir de lançador ao ônibus espacial europeu, o Hermes, diz Roberto Lo Verde, do Centro Espacial Guianense, em Kourou (Guiana Francesa).
Com o Hermes, a ESA (Agência Espacial Européia) queria alcançar o programa de ônibus espaciais da Nasa.
O ônibus espacial, porém, fez a agência americana deixar de investir em melhores lançadores de satélite e perder um mercado em expansão para a ESA nos anos 80.
Talvez por isso o projeto Hermes tenha sido interrompido, enquanto a construção do Ariane-5 vem cumprindo prazos à risca.
Até o final de 1995, serão realizados um total de oito testes do seu propulsor a combustível sólido –um }buscapé com nada menos que 237 toneladas de pólvora para queimar em pouco mais de dois minutos.
Este ano começaram a ser feitos testes do propulsor a combustível líquido (conhecido como estágio criogênico).
Esse estágio queima 25 toneladas de hidrogênio com 130 toneladas de oxigênio. É o principal }motor, que funciona por 9min30s e se separa do foguete.
Concluídos os vôos de qualificação, o foguete deve fazer vôos comerciais já no fim de 1996. A Arianespace tem pressa. Basta dizer que há hoje 39 satélites na fila para entrar em órbita.
A empresa diz que poderá lançar dois foguetes Ariane-5 com intervalo inferior a um mês. A experiência do Ariane-4 em 1994 mostra que a meta é ambiciosa.
}Em 1994 vamos ter pela primeira nove lançamentos num ano, diz Roger Solari, que comanda o Centro Espacial Guianense. Até agora só foram lançados quatro foguetes, um dos quais caiu n'água (o vôo 63, em janeiro passado).
Para cumprir a meta de Solari é preciso executar sem falha, até o fim do ano, um inédito intervalo de 21 dias entre dois lançamentos.
Mas o próximo, marcado para 8 de setembro, ocorre quase 30 dias após o lançamento do Brasilsat-B1, no último dia 10.
Segundo a Arianespace, o Ariane-4 deve continuar a ser lançado até 1999, quando deve ser totalmente substituído pelo Ariane-5.
Para cumprir os ambiciosos intervalos de menos de um mês entre os lançamentos, as operações iniciais de montagem do Ariane-5 devem durar apenas 13 dias úteis.
Depois o foguete é transferido sobre trilhos por 1.200 metros para o edifício de montagem final, onde recebe a carga a levar ao espaço, e os tanques de combustível sólido são preenchidos. Essas operações devem durar oito dias.
Finalmente ele prossegue até a plataforma de lançamento, percorrendo mais 2.800 metros de trilhos sobre uma estrutura de 870 toneladas –a mesa de lançamento.
Sobre a mesa, um mastro de 58 metros de altura funciona como o cordão umbilical, fornecendo ao foguete tudo o que ele precisa.
No dia D começa a cronologia de lançamento. Até cinco horas antes, todo o pessoal é evacuado a pelo menos quatro quilômetros de distância da plataforma.
Só ficam mais próximos os operadores do Centro de Lançamento, numa espécie de }bunker cercado por uma parede sólida de mais de um metro. O centro funciona como uma cabine de controle de onde o foguete é pilotado.
A quatro horas do lançamento começa o enchimento dos tanques de oxigênio e hidrogênio líquidos. A uma hora, todos os responsáveis pela missão estão a uns 17 quilômetros do foguete, na sala Júpiter.
Essa sala pode ser comparada à torre de comando de um aeroporto: é de lá que sai a autorização para a nave partir.
Quem dá a ordem final é o diretor de operações. Como o Centro Espacial Guianense fica em território francês, ele fala em nome da França, responsável por danos causados por quaisquer dejetos.
Começa então a operação conhecida como sequência sincronizada, a seis minutos da hora H. A partir daí, os dispositivos são acionados automaticamente.
Não há mais como deter o foguete: dez, nove, oito, sete, seis, cinco, quatro, três, dois, um –garras enormes liberam as 730 toneladas do foguete, que dispara.
Se tudo corre bem, uns dois minutos depois acaba o combustível sólido. Os dois propulsores laterais caem no mar. Oito minutos depois é a vez do estágio criogênico.
Finalmente, um motor menor assume o comando e põe em órbita a carga –um satélite de 6.800 quilos, ou dois somando 5.900 quilos.
Segundo Solari, o custo do lançamento com o Ariane-5 deve girar em torno de R$ 20 a R$ 25, para cada grama de carga, preço cerca de 10% inferior ao cobrado com Ariane-4.

O jornalista Helio Gurovitz viajou a Kourou a convite da Arianespace e da Embratel.

Texto Anterior: Exército dos EUA cria campo de batalha digital
Próximo Texto: O FOGUETE ARIANE 5
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.