São Paulo, domingo, 21 de agosto de 1994
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Papa encabeça oposição ao texto

MARCELO MUSA CAVALLARI
DA REDAÇÃO

O papa João Paulo 2º foi o principal articulador da oposição ao texto a ser discutido no Cairo.
A Igreja Católica se opõe ao aborto e ao que julga uma visão do sexo excessivamente médica e aética presente no documento.
Pressão dos bispos católicos no mundo todo conseguiu o alinhamento de vários países à posição do Vaticano.
Nas últimas duas semanas, importantes lideranças muçulmanas se puseram ao lado do papa. No próprio Cairo, a mesquita de Al-Azhar, um importante centro teológico do islamismo, se opôs ao documento.
O texto foi discutido ao longo de três anos e em três reuniões preparatórias. A idéia era que fosse aprovado por unanimidade. Cerca de 85% do texto está aprovado.
A igreja garante que não haverá consenso no Cairo a menos que os outros 15% sejam modificados.
Segundo Xavier Thevenot, professor de teologia do Instituto Católico de Paris, a proibição do aborto "é das poucas normas que não sofreu alteração" na igreja.
A Didaquê, o primeiro manual cristão, escrito antes de 140, já proibia explicitamente o aborto.
A Igreja também se opõe a métodos artificiais de controle de natalidade. Para o Vaticano, os países ricos boicotam a difusão de informações sobre os métodos naturais por interesses industriais.
Organizações não-governamentais –principalmente organizações feministas– tiveram grande participação na preparação da conferência do Cairo.
O grupo americano Catholics for Free Choice se baseia em estatísticas para defender o aborto e métodos artificiais de contracepção. A organização apresenta números mostrando que a maioria dos que se dizem católicos não concorda com o que chamam de a posição da hierarquia católica.
A hierarquia católica costuma responder dizendo que a igreja não é uma democracia. A doutrina não é definida pelo voto, mas pelo que está na Bíblia e na tradição.
Na sexta-feira, o Departamento de Estado dos EUA disse que está tentando diminuir a visibilidade do debate sobre o Cairo. Os católicos e muçulmanos trabalham na direção contrária.
Será um braço-de-ferro entre os dois maiores representantes de uma e outra posição. De um lado o papa João Paulo 2º. Do outro, o presidente americano, Bill Clinton. Eles já estiveram frente a frente falando do assunto no Vaticano. Nenhum dos dois recuou. O mais provável é que não haja consenso no Cairo.
(MMC)

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