São Paulo, domingo, 21 de agosto de 1994
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México faz hoje sua eleição mais limpa

ANTONIO CARLOS SEIDL
ENVIADO ESPECIAL À CIDADE DO MÉXICO

Nas eleições mais acirradas de sua história moderna, o México vai hoje às urnas escolher o presidente que governará o país nos próximos seis anos.
O resultado pode pôr fim ao monopólio do poder do PRI (Partido Revolucionário Institucional), de centro-direita, abrindo uma nova era na política mexicana.
Serão também renovadas a totalidade da Câmara dos Deputados e 96 das 128 cadeiras do Senado.
Beneficiados pela reforma política que deu mais espaço à campanha da oposição na TV e pela cruzada nacional contra as fraudes eleitorais, o PAN (Partido da Ação Nacional) e, em menor escala, o PRD (Partido da Revolução Democrática) têm esperança de desbancar o PRI.
Seria um fato inédito: desde sua fundação, em 1929, o PRI venceu, quase sempre acusado de manipular os resultados, dez eleições presidenciais consecutivas.
Segundo uma pesquisa do Centro de Estudos de Opinião de Guadalajara, realizada há duas semanas, o candidato do PRI, Ernesto Zedillo Ponce de León, 42, tem 35% dos votos, contra 25% para o candidato conservador do PAN (Partido de Ação Nacional).
O terceiro dos principais candidatos, Cuauhtémoc Cárdenas, do partido de centro-esquerda PRD (Partido da Revolução Democrática), 60, tem menos de 10% da preferência, sendo que 20% dos eleitores ainda estão indecisos.
Mas Demetrio Sodi de la Tijera, articulista político do }La Jornada, diz que o principal obstáculo à credibilidade dos prognósticos eleitorais é a dúvida dos mexicanos se devem deixar de lado o medo e votar a favor de mudanças.
A maioria das análises diz que não há favorito, ressaltando que o mais importante para o México não é o vencedor, mas o reconhecimento internacional de que o país realizou a mais transparente e honesta eleição de sua história.
A expectativa cresce a cada dia desde o encerramento das campanhas no domingo passado, com a participação de cerca de 300 mil pessoas nos comícios de cada um dos principais partidos.
Por imposição da nova lei eleitoral, os candidatos recolheram-se ao silêncio nos últimos dias.
A lei eleitoral também proíbe a realização de pesquisas de intenção de voto nas duas semanas que antecedem as eleições.
Pela primeira vez não será permitida a presença de cabos eleitorais e outras manifestações partidárias perto dos 96,4 mil postos eleitorais espalhados pelo país.
Segundo o IFE (Instituto Federal Eleitoral), 45.729.059 pessoas podem votar nas eleições de hoje. Como resultado de uma campanha maciça nos meios de comunicação, com a participação de figuras populares no país, o IFE espera o comparecimento de cerca de 75% dos eleitores às urnas. O voto não é obrigatório no México.
As ruas da capital –maior colégio eleitoral do país (5.846.382 eleitores)– estão enfeitadas para o que o governo e as autoridades eleitorais esperam que seja uma grande manifestação cívica, representando o amadurecimento político do México.
A propaganda eleitoral se dá principalmente com bandeirolas dos candidatos, com as cores dos partidos penduradas em barbantes de um lado a outro sobre as ruas.
Há pôsters nos locais especiais para eles, mas não há cartazes colados em locais proibidos. A cidade, que sofre de crônica poluição, já é suficientemente suja.
Não há ninguém com bandeirolas de candidatos fazendo propaganda debaixo dos sinais nas principais esquinas da cidade.
O que há é uma atividade intensa de vendedores, assim como em várias cidades brasileiras.
Essa atividade é um exemplo vivo da crise de desemprego e subemprego no México, apesar do ajuste de sua economia em anos recentes, com o acordo para a reestruturação da dívida externa e reformas neoliberais.
Um editorial do jornal }Excelsior exemplifica a expectativa no país, dizendo em letras garrafais que se as eleições não forem marcadas pela lisura o México dá adeus à democracia e entra em novo período de caos e violência.
Os empresários jogam suas fichas na legitimidade das eleições, seja lá quem sair vencedor.
Luís Germán Cárcoba García, do CCE (Conselho Coordenador Empresarial), porta-voz da iniciativa privada, diz que eleições limpas são a última alternativa para que o país possa atrair investidores externos e manter suas aspirações de crescimento sob as vantagens do Nafta (acordo de livre comércio entre Canadá, EUA e México).

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