São Paulo, quarta-feira, 24 de agosto de 1994
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O estranho eleitor

JANIO DE FREITAS

A disparada de Fernando Henrique e a proximidade das eleições, distantes menos de 40 dias, repõem uma indagação: difíceis de entender são os eleitores ou as pesquisas (refiro-me às sérias)?
Quando convidados a declarar sua intenção de voto, para a pesquisa do Datafolha publicada ontem, os eleitores que não receberam a relação de candidatos concederam 25% dos votos para Fernando Henrique e 14% para Lula. Mas, quando tiveram à vista a relação dos candidatos, 43% optaram por Fernando Henrique e 23% por Lula. A variação de apoios ao mesmo candidato é parecida, mas é muito grande. Ainda mais, tão perto da eleição.
Pela mesma ordem de respostas, no primeiro caso há 47% de indecisos e 6% com votos brancos ou nulos. E, à vista dos nomes, os 47% caem para 12% (redução assombrosa, para quase um quarto) e os 6% sobem para 7%.
Em que momento o eleitor é sincero e seguro? Qual das duas pesquisas é mais indicativa? E, qualquer que seja dada pelos estatísticos como mais indicativa, o que é que prova esta sua qualidade?
Para as duas últimas perguntas já ouvi, em eleições passadas, muitas respostas. Com franqueza, nenhuma me convenceu. Continuo sem saber se é mais difícil entender a volubilidade tão rápida do eleitor, de uma indagação para a outra do pesquisador, e o valor de cada gênero pesquisa, a induzida e a espontânea. Ainda bem que as duas pelo menos coincidem na escala dos candidatos.
Dívida
A Justiça, a Procuradoria-Geral da República e o Judiciário estão devendo a coordenação de suas ações para que haja, enfim, investigações e conclusões convincentes sobre o assassinato de Ana Elizabeth Lofrano, mulher de José Carlos Alves dos Santos, o denunciador da corrupção parlamentar no Orçamento.
O novo "Correio Braziliense" reabriu o caso com fotos desconhecidas e uma versão inédita do crime, feita pelo pretenso detetive particular que confessara sua participação no assassinato. Não se pode aceitar facilmente as versões de um tipo como esse. Mas o fato de que seja possível nova versão é indicativo de que as funções de polícia e Justiça não foram ainda devidamente cumpridas neste caso. Não estabeleceram conclusões que não se abalem diante de uma entrevista de um dos envolvidos.
Nomes de parlamentares e ex-parlamentares voltam a ser citados no caso, agora com implicação ainda mais explícita. Aumentaram, também, as referências à prática de tortura pela polícia de Brasília. O desembargador Pedro Aurélio Rosa de Freitas, do Tribunal de Justiça do Distrito Federal, não esconde suas restrições ao inquérito. Por aí já se vê que o caso está exigindo atenções especiais.
Há mais razões para isso, porém. A suposta relação do crime com a corrupção do Orçamento tem implicações muito profundas, que não podem ser tratadas como um crime qualquer. Mas, até agora, têm sido.
Os pingos nos lugares
No debate de candidatos ao governo de Santa Catarina, anteontem, a deputada Ângela Amin cometeu um equívoco, ao atribuir-me a iniciativa de um telefonema para pedir-lhe desculpas pela notícia, em que ela foi parte, sobre transações com um terreno. Não me sentiria constrangido de pedir desculpas se me sentisse devedor delas, o que não foi o caso.
E o telefonema entre mim e a deputada foi de iniciativa dela, para informar que estava remetendo por fax a sua explicação para os episódios em torno do terreno. O mesmo já havia feito, pouco antes, o senador Esperidião Amin, como registrei prontamente aqui.

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