São Paulo, quarta-feira, 24 de agosto de 1994
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Itamar manda "desovar" 300 mil casas populares antes da eleição

GUSTAVO PATÚ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O financiamento para venda de cerca de 300 mil casas populares, ainda antes do primeiro turno das eleições, foi uma decisão política do Planalto que atropelou os estudos técnicos da CEF (Caixa Econômica Federal).
A venda destes imóveis, construídos ainda no governo Collor, vinha sendo estudada pela CEF desde meados do ano passado.
A pressão do Planalto fez com que o presidente da CEF, José Fernandes de Almeida, anunciasse anteontem a venda dos imóveis sem ter sequer estabelecido qualquer critério técnico para a operação.
Nos últimos meses, a Caixa dizia não ter estrutura para bancar financiamentos desta dimensão.
A decisão da venda também foi tomada à revelia do Conselho Curador do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço).
A Folha apurou que o Palácio do Planalto quer capitalizar eleitoralmente a venda deste imóveis, passando à população a imagem de um governo preocupado com a população de baixa renda.
Representantes do Conselho Curador do FGTS consideram, reservadamente, que os financiamentos determinados pelo presidente Itamar Franco visam favorecer o candidato do governo à Presidência, Fernando Henrique Cardoso.
Pressões do Planalto
A interferência do Planalto começou na terça-feira passada por intermédio do ministro do Trabalho, Marcelo Pimentel.
Durante reunião do Conselho Curador do FGTS, Pimentel, em tom irritado, cobrou da CEF uma definição imediata para o problema dos imóveis encalhados.
Os representantes dos trabalhadores no conselho, no entanto, barraram o voto nesse sentido.
Mesmo sem uma decisão do conselho, o presidente da CEF, José Fernando de Almeida, anunciou anteontem que o governo agilizaria a venda das casas e apartamentos.
Os imóveis foram construídos no governo Collor com recursos do FGTS, mas ficaram encalhados por falta de financiamento para aquisição. Segundo a Folha apurou, existem cerca de 350 mil imóveis encalhados, dos quais 12 mil já foram invadidos.
Há também imóveis ainda inacabados e outros com denúncias de superfaturamento.
Desde meados do ano passado, o conselho procura uma forma de financiar a aquisição dos imóveis. Mas esbarra no problema de falta de estrutura e recursos da CEF para bancar novos empréstimos.
Pela avaliação técnica do conselho, a CEF não teria estrutura nem sequer para emitir 300 mil novos carnês de aquisição da casa própria. Hoje, a CEF trabalha com cerca de um milhão de carnês.
Distribuição de comida
O presidente do Consea (Conselho de Segurança Alimentar), dom Mauro Morelli, responsabilizou ontem as "interferências políticas" pelo atraso no programa de distribuição de alimentos.
"Estamos sentindo que outros elementos que não deveriam estar presentes têm dificultado aquilo que a burocracia já torna difícil."
Desde abril, o Consea vem tentando a liberação pelo governo de 400 mil toneladas de alimentos para reiniciar o programa. A autorização, segundo d. Mauro Morelli, pode sair hoje através de uma MP (medida provisória).
A distribuição deve ser retomada no dia 7 de setembro. O ministro Sinval Guazzelli (Agricultura) negou o uso eleitoral do programa às vésperas do primeiro turno. Ele disse que o atraso na liberação se deveu a motivos técnicos.

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