São Paulo, quarta-feira, 24 de agosto de 1994
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O governo está exagerando

JOSIAS DE SOUZA
DIRETOR-EXECUTIVO DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O debate sobre o afastamento de Collor ocupava os jornais há dois meses. A ninguém era dado o direito de desconhecer uma evidência: o presidente poderia ser arrancado de sua cadeira a qualquer momento.
Chega o instante da decisão. A Câmara decide abrir processo contra Collor. Informado de que deveria ocupar a Presidência, Itamar Franco hesitou.
Ele tentou adiar a posse. Só com muito custo conseguiram convencê-lo de que a cadeira de presidente não deveria ficar vaga um único segundo. O bom-senso recomendava que Itamar cumprisse o seu dever.
Evidenciava-se já na posse que o governo Itamar seria marcado pela indecisão. O estilo errático do presidente, de fato, conferiu à máquina pública um ritmo de tartaruga manca.
Pois a campanha eleitoral parece ter resolvido o problema. A eleição azeitou a máquina, apressou o passo do governo que, agora, caminha a passos de lebre.
Liberam-se verbas, iniciam-se algumas obras, aceleram-se os calendários de outras. Ontem, descobriu-se que o governo tenta também apressar a venda de casas populares.
O governo Itamar está passando dos limites. As evidências demonstram que alguns cofres da Esplanada dos Ministérios foram colocados a serviço da candidatura de Fernando Henrique Cardoso.
Até a semana passada, a movimentação do governo incomodava apenas a Lula. Hoje, começa a inquietar até o comitê do candidato beneficiário do processo.
A assessoria de Fernando Henrique mostra-se incomodada com o engajamento do governo na campanha. Avalia-se que, de tão escancarado, o apoio de Itamar pode gerar prejuízos.
Ouvem-se nos corredores do escritório de campanha do PSDB ataques abertos ao ministro Alexis Stepanenko.
Chega-se a afirmar que Stepanenko estaria por trás do vazamento dos bilhetes que expõem seu apoio a Fernando Henrique.
Suspeita-se que o ministro esteja tentando "cavar" um cargo no futuro governo. Stepanenko pode perder as esperanças. A julgar pelas referências que lhe são dirigidas, está fora.
O espantoso é que a Justiça Eleitoral permanece inerte diante das evidências de instrumentalização da máquina pública na eleição.

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