São Paulo, quarta-feira, 24 de agosto de 1994
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Pólos de telemática, uma porta para o século 21

JAMES T. C. WRIGHT
"Sociedade da Informação" traz a visão de uma revolução tecnológica com a integração de serviços "multimídia" numa rede com "tomada única" nas casas ou nos escritórios e promete revolucionar a vida no século 21. Enquanto os meios tradicionais de transmissão de informação como livros, jornais, revistas e correios, apresentam custos crescentes, a transmissão digital torna-se cada vez mais barata.
Hoje, no Brasil, já existem sistemas rudimentares de televisão interativa, como o "Você Decide" da Rede Globo, que permitem aos telespectadores interagir eletronicamente via telefone e alterar a programação, e os sistemas de telecompra, que criam um "shopping center virtual" na televisão.
Para crescer e ser competitivo, o Brasil precisa de informação, educação e capacitação profissional; a produtividade de cada trabalhador brasileiro precisa crescer 50% nos próximos 15 anos para mantermos um crescimento do PIB de 5% ao ano.
A telemática tem um enorme potencial para ampliar as oportunidades de educação e treinamento da população. No entanto, no início do Século da Informação, não teremos ainda renda suficiente para cada brasileiro ter acesso a um computador ou mesmo a um telefone.
No caso do Brasil, uma porta de entrada para a sociedade da informação seria a implantação de uma rede de telemática pública, alavancando nosso sistema de educação e treinamento profissional para alcançarmos a competitividade internacional.
No ensino, a TV interativa fornece ferramentas para a capacitação de professores e para melhorar a qualidade e diversidade do ensino. Ela apresenta melhor potencial didático do que a TV educativa tradicional, pois dirige um programa específico para um determinado grupo, com conteúdo e ritmo que o professor determina em função da aptidão da sua classe.
O caminho será montar uma rede de pólos de telemática agregados às escolas públicas, integrando uma larga gama de serviços públicos em verdadeiros centros eletrônicos de convivência.
Os pólos de telemática funcionarão como portas de acesso a serviços públicos, cultura e lazer. Sistemas de fácil utilização pelo público fornecerão informações e dados sobre empregos e preços, interação com serviços de saúde, prefeitura, correio eletrônico e outros, além de oportunidades de lazer.
Em São Paulo, por exemplo, existem mais de 6.000 escolas públicas espalhadas por todos os bairros, cada uma representando um investimento médio da ordem de US$ 900 mil. São US$ 5,4 bilhões aplicados com eficiência discutível.
O acréscimo de um pólo de telemática nestes pontos será uma pequena fração do custo de cada escola. A integração de outros serviços públicos, substituindo instalações isoladas e aumentando a produtividade global no atendimento trará economias em investimento, manutenção e operação do sistema, além de um ganho considerável na eficiência e na qualidade dos serviços prestados.
Esse tipo de proposta é uma grande oportunidade para as empresas na área de informática, ensino e comunicação, pois os sistemas a serem utilizados deverão ser necessariamente nacionais. Poderão ser desenvolvidos softwares educacionais e de treinamento profissional interativo com as características do trabalhador brasileiro, adequados à nossa cultura. Já existem bons exemplos de programas educacionais desenvolvidos por colégios que perceberam esta oportunidade.
O Brasil poderá ser competitivo nesta área de software, pois conta com pessoal qualificado e níveis salariais relativamente baixos. Resultam uma vantagem competitiva concreta e uma "reserva" de mercado natural, pela especificidade cultural dos produtos em áreas como educação, treinamento e serviços públicos.
Para chegar à sociedade da informação o Brasil precisa dar um salto, usando tecnologias avançadas, mas de forma adequada às nossas necessidades e limitações, que são muito diferentes dos países industrializados. Copiar modelos não nos levará a lugar algum.
JAMES T. C. WRIGHT, 43, engenheiro, doutor em administração de engenharia pela Universidade de Vanderbilt (EUA), é professor da Faculdade de Economia e Administração (FEA) e supervisor de projetos da Fundação Instituto de Administração (FIA) da USP (Universidade de São Paulo).

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