São Paulo, quarta-feira, 24 de agosto de 1994
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Horizonte mais claro

Nas primeiras semanas após a introdução do real, houve, com a queda nas vendas, o temor de que o plano fosse recessivo. Passados quase dois meses, vários indícios de recuperação mostram o contrário. O efeito estimulante da estabilidade econômica supera o freio dos juros ainda excessivamente altos.
De fato, mesmo que não tenha havido uma alteração significativa no poder de compra dos salários, o brasileiro parece disposto a gastar mais. As perdas da inflação de fins de junho e julho foram contrabalançadas pela drástica queda na desvalorização do dinheiro no bolso. E a confiança aumentou.
Sem que os preços subam diariamente, o consumidor está mais tranquilo para pesquisar e sente-se mais seguro ao realizar suas compras. Vendo no horizonte uma estabilidade no custo de vida, diminui o risco de comprometer seus rendimentos em compras a prazo.
O bom desempenho das vendas na linha branca e a recuperação do movimento nos supermercados demonstra que a retração de julho foi uma pausa, não o início de uma tendência declinante. Por outro lado, o nível de capacidade ociosa das indústrias, ainda elevado, mostra que existe espaço para crescer sem gerar pressões inflacionárias.
O risco de recessão parece transfigurar-se, portanto, em cenário de crescimento. Mas, se do ponto de vista da capacidade de produção não há obstáculos, os juros altos podem criar atritos e elevar preços. O custo excessivo do dinheiro induz as indústrias a manterem estoques baixos, reduzindo sua capacidade de responder rapidamente a um maior número de encomendas. Ademais, impede que as empresas se preparem para uma demanda maior, pois antecipar a produção implica um risco. A rigidez na oferta de mercadorias pode resultar em elevações de custos e preços.
No curto prazo, corrigida a distorção dos juros, as perspectivas são favoráveis. É claro que todo esse cenário promissor dependerá da resolução dos problemas estruturais do Estado brasileiro que são a causa primária da inflação.

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