São Paulo, quarta-feira, 24 de agosto de 1994 |
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A campanha que ninguém vê Por pouco emocionante que tenha sido o debate entre os candidatos ao governo de São Paulo, realizado anteontem à noite, ele serviu ao menos para ilustrar de forma flagrante o modo como as campanhas para os governos estaduais, para o Congresso Nacional e para as assembléias legislativas têm sido encaradas no primeiro pleito casado da história recente do país: com profundo desinteresse. Soterradas pela ubíqua corrida presidencial, essas outras disputas vêm sendo relegadas a um plano longinquamente secundário, quase como se não produzissem qualquer tipo de impacto sobre a vida cotidiana dos cidadãos. E se é evidente que a Presidência sem dúvida é a função mais importante do país –particularmente num momento de transição como o que vive o Brasil–, é equivocado imaginar que outras funções do organismo político sejam irrelevantes. Essa é uma imagem distorcida que decorre tanto da estrutura como da tradição política do país. De fato, num regime presidencialista é natural que as atenções sejam concentradas na disputa pelo cargo máximo. Mas essa tendência é agravada no Brasil pela tradição de centralismo administrativo, que acabou acostumando a população a dar pouca importância a instâncias inferiores e a identificar apenas o Executivo federal como poder efetivo. Isso, por exemplo, apesar de os governos estaduais terem hoje muitas atribuições diretamente relacionadas com o dia-a-dia concreto dos cidadãos. Do mesmo modo, a extrema pulverização dos pleitos proporcionais –com incontáveis candidatos disputando cada voto– contribui para alienar o eleitor dessa disputa, criando um distanciamento entre representante e representado que em geral dura todo o mandato. São problemas que, é lamentável constatar agora, após o fiasco da revisão constitucional, poderiam ser devastadoramente combatidos com a adoção do voto distrital misto. Quaisquer grandes mudanças nacionais têm de passar pelo Congresso. Boa parte dos problemas do cotidiano da população são de competência estadual. Apesar disso, a escolha dos ocupantes desses cargos não consegue atrair a atenção que deveria. É mais um exemplo das distorções da estrutura política nacional, cuja reforma continua tão atual e necessária como antes. Texto Anterior: Horizonte mais claro Próximo Texto: Exportar sem se importar Índice |
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