São Paulo, quarta-feira, 24 de agosto de 1994
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PC no palanque de FHC

CARLOS HEITOR CONY

RIO DE JANEIRO – Na opinião de Lula, somente um figuraço fica faltando no palanque de seu adversário: PC Farias. Além de grosseira, a insinuação de Lula é desnecessária. O palanque de FHC tem o seu PC –e bota PC nisso. É todo o governo de Itamar Franco segurando os preços dos combustíveis para que não haja marola que atrapalhe as pesquisas nessa fase da campanha eleitoral.
Considero Fernando Henrique um bom candidato. Em outro contexto, seria ele o melhor candidato da história do Brasil –tirante Ruy Barbosa que não se elegeu. Não apreciei sua atuação como ministro da Fazenda, sua afobação em ocupar a pole-position das forças que aí estão e que pretendem permanecer no poder por muito tempo: já temos abundantes sinais de que o atual grupo palaciano prepara a volta de Itamar em 1998 –e se FHC fizer por ele o que Itamar está fazendo por FHC, será uma barbada.
Basta descolar um novo plano econômico que por três ou quatro meses dê a sensação de tranquilidade e confiança ao bolso de todos os pobres e remediados. Esses dois ou três meses em nada afetarão os ricos –será o preço que eles estarão pagando para ter direito a outros quatro anos de especulação, inflação e corrupção. Elementar, meu caro.
Acho uma pena que um candidato com as qualidades de FHC traga no bojo de sua campanha esse pecado original, esse vírus que o torna imbatível nas pesquisas e deverá fazê-lo presidente da República montado no dragão apenas adormecido da inflação. Abertas as urnas, o governo admitirá que não mais poderá sustentar a barra dos combustíveis defasados, do dólar que está prejudicando os exportadores, dos salários que estão arrochados etc.
O eleitorado já terá eleito o salvador da pátria e terá como presidente o ectoplasma de Sarney, Collor e Itamar.
FHC não mereceria isso. É um candidato cinco estrelas, inclusive com uma noção ética do que seja um candidato à Presidência da República. Evita picuinhas, desmente e condena boatos, procura elevar a campanha a um patamar que nunca alcançamos.
Desta vez –devemos admitir– as forças terríveis de que falava Jânio Quadros foram competentes para capturar um excelente espécime de homem público.

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