São Paulo, quarta-feira, 24 de agosto de 1994
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Eles são privilegiados

GILBERTO DIMENSTEIN

BRASÍLIA – Estou recebendo cartas iradas sobre comentários nesta coluna analisando os salários dos servidores de estatais –a maioria delas de funcionários do Banco do Brasil, sentindo-se vítimas de uma "injusta" agressão, devido à informação de que seu salário médio é de US$ 2.000.
Afirmam, no geral, que por trás dos comentários haveria uma diabólica conspiração. Esclarecimento nº 1: os dados são baseados em documentos oficiais, produzidos pela Sest (Secretaria de Controle das Estatais), do Ministério do Planejamento.
Esclarecimento nº 2: considero extremamente positivo o apego dos servidores ao Banco do Brasil. Não menos positivos são o processo de seleção, marcados por rígidos concursos, e estímulo ao aperfeiçoamento profissional. Graças a esse estímulo, foram produzidas algumas das melhores cabeças econômicas do país.
Mas não posso aceitar o papel de vítima da aristocracia do serviço público. Vejamos o caso do Banco do Brasil:
1) Seus salários são acima da média dos empregados de bancos privados;
2) Aposentam-se com vencimentos integrais. Seu fundo de pensão é alimentado, em sua maior parte, com dinheiro público;
3) A cada cinco anos, eles podem tirar licença remunerada de três meses;
4) A cada ano, eles podem se ausentar cinco dias sem justificativa, o que é batizado de abono assiduidade;
5) Recebem financiamentos facilitados para adquirir imóveis;
6) Ganham ajuda para compra de alimentos numa cooperativa exclusiva aos funcionários;
7) Enquanto os bancos privados enxugaram suas folhas de pagamentos, adaptando-se às crises, as instituições oficiais aumentaram as contratações. Eles têm o privilégio da estabilidade;
Resumindo: raros trabalhadores brasileiros (infelizmente) conseguem tanta segurança e padrão salarial. Daí ter sido publicado nesta coluna que eles reclamando de barriga cheia.
PS – A favor dos funcionários dos bancos oficiais existe algo importante a lembrar. O apego à instituição fez com que muitos deles, mesmo arriscando seus empregos, passassem a jornalistas documentos indicando irregularidades ou negociatas. Ajudando, de fato, economizar recursos da nação.

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