São Paulo, domingo, 28 de agosto de 1994 |
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Bancos ganham US$ 9 bi com inflação
CARLOS ALBERTO SARDENBERG
Em 1993, os 40 maiores bancos brasileiros tiveram uma receita de US$ 35 bilhões. O ganho inflacionário representou 26% disso, ou pouco mais de US$ 9 bilhões. Os números constam de estudo de Carlos Daniel Coradi, da EFC - Engenheiros Financeiros & Consultores. Indicam ainda que as receitas com operações de crédito, as atividades normais de um banco, foram de 30% do total, ou US$ 10,5 bilhões. Portanto, os ganhos com atividades próprias, que permanecem em ambiente estável, representaram a maior parte de suas receitas. Mas o ganho inflacionário ainda é alto, um quarto das receitas. Segundo Coradi, sem inflação, os 40 maiores bancos brasileiros, em 1993, em vez de lucro de US$ 2,1 bilhões, fariam prejuízo de US$ 1,7 bilhão. A situação, entretanto, não é a mesma para bancos de varejo e de atacado, privados e estatais. Quem mais perde são os grandes bancos de varejo, aqueles que têm muitas agências. Pela sua capilaridade, esses bancos recebem mais contas e carnês, e o dinheiro sempre fica alguns dias antes de ser repassado. Esses bancos têm ainda grande número de contas-correntes de pequeno valor, cujos titulares deixam o dinheiro parado. Somando uma coisa e outra, dá um volume enorme, que os bancos aplicam e embolsam, com todos os ganhos daí decorrentes. Exemplos: em 1993, o ganho inflacionário do Itaú representou 57% das receitas de intermediação financeiras. Do Bradesco, 51%. Do Bamerindus, 34%. Nos bancos estatais de varejo, a participação dos ganhos inflacionários é menor. No Banco do Brasil, por exemplo, esses ganhos representaram 32% das receitas de intermediação financeira, em 1993. No Banespa, 33%. Mas não se pode concluir que a situação dos bancos estatais seja mais confortável. Ao contrário. Pode-se dizer que os bancos de varejo privados foram mais eficientes em buscar o lucro inflacionário. E foram eficientes também na preparação para o fim da inflação. Desde o Plano Cruzado, quando sentiram o baque da inflação baixa, os bancos privados vêm enxugando suas estruturas e melhorando sua produtividade, especialmente com a automação. Os estatais se atrasaram. No ano passado, os 40 maiores bancos tiveram uma despesa global de US$ 32,9 bilhões. As despesas com pessoal representaram 38% disso, ou US$ 12,5 bilhões. É o principal item da despesa. Mas a situação varia de banco par banco. Segundo os estudos de Coradi, em 1993, os seis maiores bancos de varejo gastaram US$ 15.331 por funcionário. Já nos seis maiores estatais, esse gasto sobe para US$ 28.403. E o recorde vai para o Banco do Nordeste, com US$ 51.675 por funcionário. Está aí um grande problema. Ao perderem o ganho inflacionário, comenta Coradi, os bancos precisam aumentar as outras receitas (de operações de crédito e de prestação de serviços). Operações de crédito dependem da retomada da economia e da existência de empresas precisando de recursos para investir. Isso demora algum tempo. Prestação de serviços (manter a conta-corrente, cobrança de talão de cheques, etc.) ficou mais cara em todo o país estabilizado. Mas o ganho aí é limitado. Assim, onde se consegue resultado mais imediato é na redução de despesas. Ora, o principal item da despesa é pessoal, com áreas ligadas. Exemplo: bancos precisarão fechar agências sem ou de pouca rentabilidade. E fechamento de agências deixa pessoal ocioso. Bancos privados já fizeram isso e podem voltar a fazer rapidamente. Já os bancos estatais, por razões políticas e legais, não conseguem demitir nem fechar agências. Os bancos estatais enfrentam ainda outro problema. Por razões políticas, são obrigados a fazer empréstimos sem possibilidade de retorno. Ao final do ano passado, os bancos estatais tinham créditos em atraso ou de recebimento duvidoso que representavam 37,6% do patrimônio líquido. No caso dos bancos privados, essa participação era de apenas 3,3%. Eis alguns exemplos desses créditos duvidosos. O Banco do Brasil tem sido obrigado, ao longo da sua história, a conceder crédito a produtores rurais cobrando juros abaixo do mercado. E vira-e-mexe vem uma anistia perdoando as dívidas desses produtores. Os bancos estatais estaduais eram obrigados a dar empréstimos aos governos controladores e suas empresas - que nunca são pagos. Exemplo: o governo paulista e as estatais paulistas devem US$ 6 bilhões ao Banespa. As duas coisas são inflacionárias. O Banco do Brasil precisa de dinheiro do Tesouro para tapar buracos. E os bancos estaduais se socorrem no Banco Central. Desde junho do ano passado, os bancos estaduais estão proibidos de emprestar para seus governos. Mas há um passado a resolver. Texto Anterior: Brasil é recordista de juros há três anos Próximo Texto: Ganhos vieram da ciranda financeira Índice |
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