São Paulo, domingo, 28 de agosto de 1994
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Brasil é recordista de juros há três anos

GUSTAVO PATÚ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Os juros brasileiros são os mais altos do mundo há pelo menos três anos, consideradas as taxas cobradas acima da inflação.
As taxas cobradas em junho, por exemplo, equivaleram a 42% ao ano acima da inflação. Nos países desenvolvidos, os juros oscilam entre 4% e 5% ao ano.
É o resultado da estratégia de combate à inflação utilizada no último ano do governo Collor, e também em 1993 e 1994, sob a administração de Itamar Franco, favorável à queda das taxas.
Neste período, além do Brasil, só países em desagregação política, como a Rússia, ou em guerra civil, como a ex-Iugoslávia, tiveram inflação acima dos 1.000%.
A recente queda da inflação obtida com o Plano Real não gerou, pelo menos até o momento, o mesmo efeito sobre os juros.
Os economistas do governo defendem uma postura "cautelosa", até que o plano seja consolidado por reformas nas contas públicas e no setor financeiro.
Entre as medidas a tomar, o presidente do Banco Central, Pedro Malan, sugere criar mandatos para a diretoria do órgão.
Isso faria, argumenta, que a condução da política monetária (que inclui a fixação dos juros) "não oscilasse ao sabor das mudanças que com frequência ocorrem no cenário político do país".
Os últimos ministros da Fazenda e presidentes do Banco Central defenderam a adoção de juros altos baseados em argumentos básicos da teoria econômica.
Os juros servem para estimular a poupança, em detrimento do consumo.
Além disso, como os empréstimos bancários ficam encarecidos, os empresários são obrigados a desovar estoques para obter dinheiro.
Mas os efeitos colaterais dessa política também são largamente conhecidos. Diminuição dos empréstimos para a produção, queda de investimentos, do consumo e tendência ao desemprego.
Cresce também a dívida interna do governo. Os títulos do Banco Central sustentam a alta dos juros e as aplicações financeiras oferecidas pelos bancos.
Para elevar os juros, o BC vende títulos, tornando mais raro o dinheiro na economia. Os títulos têm prazos curtos e pagam juros altos, para facilitar sua aceitação.
Segundo documentos do BC, o sistema financeiro comprou cerca de US$ 15 bilhões em novos títulos públicos no primeiro semestre.
É quase o triplo do que será emprestado ao setor rural para o plantio da próxima safra (R$ 5,4 bilhões), e cinco vezes o total de financiamentos habitacionais em 1993 (US$ 3 bilhões).
Candidatos de todas as tendências políticas defendem o fim da ciranda financeira. Propõem que o sistema financeiro volte a priorizar financiamentos ao setor produtivo.
Uma das propostas consensuais é gerar desempenhos favoráveis das contas públicas, para que os títulos do governo possam ser negociados a juros mais baixos e prazos maiores.(Gustavo Patú)

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