São Paulo, domingo, 28 de agosto de 1994
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Mistificações de campanha

JOSIAS DE SOUZA
DIRETOR-EXECUTIVO DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O eleitor precisa ficar atento. Na atual fase da campanha, os candidatos multiplicam a produção de ilusões. Chegam a tropeçar nas próprias mistificações.
Todo o PT, a começar de Lula, vinha cultivando com zelo uma imagem de campanha: dizia-se que Fernando Henrique era igual a Fernando Collor.
Aproveitando-se da aliança do tucano com o PFL, os petistas declaravam: Fernando Henrique é apoiado pelo mesmo PFL que trabalhou contra o impeachment de Collor.
O PT desejava conduzir o eleitor à conclusão de que um eventual governo do candidato do PSDB seria idêntico ao de Collor.
Na semana passada, Fernando Henrique lançou o seu programa de governo. O PT o acusa agora de plágio. Diz-se que o candidato tucano copiou propostas inteiras do PT.
Restam ao eleitor duas alternativas: ou ele percebe que o PT tenta lográ-lo, ou chega à conclusão de que Fernando Henrique, Lula e Collor são todos muito parecidos.
A lógica do conturbado discurso de campanha do PT conduz a uma dedução que em nada auxilia o partido: Lula também seria igual a Collor.
A verdade é que, durante a eleição, programa de governo vale tanto quanto a palavra dos candidatos. Um programa nada mais é do que uma consolidação de promessas.
Em maio, quando foi lançada sua candidatura, em convenção do PSDB, Fernando Henrique se irritou com notícia veiculada pela Folha.
O jornal informou que os tucanos mergulhavam na campanha sem nenhum programa de governo. O PSDB derramou-se em contestações.
Exibindo algumas folhas de papel com um amontoado de palavras, o partido dizia dispor de um programa. Verifica-se agora que os tucanos mentiam. O documento só ficou pronto na última semana.
A grande verdade é que, valiosos como peça de campanha, os programas de Lula e de Fernando Henrique não devem ser levados ao pé da letra.
Quem votar em Lula deve saber que seu programa corre o risco de ser apimentado pelos radicais que controlam o PT. Quem optar por Fernando Henrique, precisa estar ciente de que suas propostas serão abrandadas pelo conservadorismo do PFL.
Há de resto, o risco de os programas serem simplesmente lançados ao lixo após a posse.

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