São Paulo, domingo, 28 de agosto de 1994
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Policial-ator engana o narcotráfico

RICARDO FELTRIN
DA REPORTAGEM LOCAL

Cinco policiais civis de São Paulo não vivem em delegacias, mas infiltrados em grandes quadrilhas de narcotraficantes.
Como em filmes americanos, fingem ser empresários, usam carros importados e roupas de grife para conviver por até dois anos com traficantes e descobrir datas e locais de distribuição de drogas.
Hurdt, 43, Wladimir, 25, Euclides, 32, Mario, 25, e Douglas, 28, que formam a elite entre os 80 investigadores do Denarc (Departamento Estadual de Investigações Sobre Narcóticos), admitem sentir medo durante o trabalho.
"Estamos sempre desarmados com o inimigo. Qualquer falha no 'script' é a morte", diz Hurdt, formado em direito, três filhos.
Ele diz já ter sido desmascarado quando estava dentro da casa de um poderoso traficante na Bolívia. "Vi a morte na minha frente."
O trabalho também cria situações curiosas. Wladimir, por exemplo, foi convidado para batizar o filho de um casal de traficantes bolivianos após conviver quase dois anos com eles.
Alguns policiais infiltrados acabaram se envolvendo com a droga. Em 89, dois morreram de overdose. Desde 91, cinco foram processados, presos e expulsos da coorporação.
Um deles, Airton, saiu da academia da Polícia Civil e começou a trabalhar no Denarc no final de 91. Três meses depois, ficou provado que estava envolvido em extorsão de traficantes.
Outro caso, em 92, envolveu um investigador que, até então, era considerado um dos melhores e mais produtivos policiais do departamento. Após cinco anos trabalhando infiltrado, W.A. teria começado a usar drogas.
"Era visível que ele estava viciado", diz Marco Antonio de Paula Santos, 39, titular da 2ª delegacia do Denarc.
Meses depois, outros policiais descobriram que ele estava montando uma grande organização para traficar cocaína em São Paulo.
Há também registro de um caso, ocorrido este ano, de um investigador que acabou se viciando em crack –droga derivada da cocaína.

LEIA MAIS
Sobre os policiais infiltrados e o relato exclusivo de dois deles à pág. 4

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