São Paulo, domingo, 28 de agosto de 1994
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Mulher diz que vida é 'horror permanente'

RICARDO FELTRIN
DA REPORTAGEM LOCAL

A decoradora Maria das Graças, 43, é casada há 22 anos com um policial que vive infiltrado em quadrilhas de narcotraficantes. Segundo ela, sua vida é "um estado de horror permanente."
Ela afirma que nos anos de casada já mudou de endereço seis vezes. Em dezembro, vai se mudar mais uma vez.
"Estou sempre de malas prontas. A profissão do meu marido (investigador Hurdt) deixa minha família em clima de medo. Eu não consigo ficar muito tempo morando no mesmo lugar. Fico pensando que a casa está marcada."
Mais medo ainda, afirma a decoradora, é saber que dois de seus três filhos querem seguir a mesma carreira do pai.
Segundo ela, quando começou a namorar Hurdt ele já era da então Divisão de Entorpecentes, o que causou uma "revolução" familiar.
"Minha mãe o detestava e não queria que a gente casasse de jeito nenhum."
Apesar de estar casada com um policial, a decoradora admite ter uma certa "tendência" em atrair assaltantes. Foi roubada quatro vezes somente este ano.
A psicóloga Adriana, 24, também afirma que a vida de uma mulher de policial infiltrado é, às vezes, "um pesadelo".
Ela diz também ter sofrido pressões da família quando começou a namorar Wladimir, hoje pai de Taís, de dois anos.
"Quando nos casamos, bastava ele sair para eu me descabelar, chorar... Eu sempre fiquei preparada para o pior. É um medo constante de que ele vá morrer", diz.
Sobre o risco de envolvimento sexual com mulheres traficantes, Adriana diz estar tranquila. "Sei que essa possibilidade sempre existe, mas confio nele."
Hurdt e Wladimir fazem parte da equipe responsável por 70% da droga apreendida no Estado de São Paulo nos últimos três anos.
A média de apreensão mensal é de cem quilos –só de cocaína– no Estado. Ou seja, cerca de 1,2 tonelada por ano.
Segundo estimativas do Denarc, isso corresponde a cerca de 10% do total comercializado em São Paulo.
Leia nesta página o depoimento de dois policiais infiltrados que concordaram em falar com exclusividade para a Folha.

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