São Paulo, domingo, 28 de agosto de 1994
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O estouro que não houve

LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS

Os leitores da Folha vão me permitir voltar a uma tema já tratado aqui: o estouro das metas monetárias do Plano Real.
Rendendo-se aos fatos da vida, o governo autorizou nesta semana a utilização do limite adicional de 20% para a expansão da base monetária. Por azar esta decisão foi tomada ao mesmo tempo em que a expansão do consumo e um IPC-r mais elevado do que o esperado davam a sensação de problemas na estabilização.
Foi imediata a especulação no mercado, reunindo de um mesmo lado os ignorantes de sempre e os críticos do Real. Isto apesar de os índices de preços, isentos da contaminação do cruzeiro real, apresentarem os primeiros sinais da verdadeira inflação da nova moeda brasileira. A inflação medida ao nível do consumo deve ser neste mês menor do que 2%, tendo o índice Fipe-Estadão inclusive chegado perto de zero.
A questão que gostaria de trazer à reflexão dos leitores é que esta emissão de base monetária não tem a menor importância do ponto de vista do programa de estabilização.
Primeiro por que não existe na verdade emissão alguma. A chamada base monetária é formada pelo recolhimento de parcelas dos depósitos à vista do público no BC e pela moeda em circulação.
Na época do cruzeiro real o volume de depósitos à vista era muito pequeno por causa da inflação. As reservas compulsórias eram mínimas. O dinheiro que o público usava para pagar suas contas do mês estava aplicado no over, que não gerava depósito compulsório na autoridade monetária. Com a moeda manual acontecia o mesmo: ficava escondida no open.
Quando a inflação caiu o dinheiro foi para o bolso de cada um de nós e para os bancos. Não aconteceu nenhum fenômeno monetário. Apenas de estatística. Mas a base monetária aumentou. Como o Banco Central errou este cálculo, ficou a impressão de estouro.
A questão realmente importante do ponto de vista monetário é que o BC não emitiu um centavo por conta de déficit do governo ou de compra de dólares no mercado. O dinheiro que existe hoje é o mesmo de 60 dias atrás. Apenas distribuído de maneira diferente entre os vários ativos financeiros.

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