São Paulo, domingo, 28 de agosto de 1994 |
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Os mercados diversificados das exportações
ÁLVARO ANTÔNIO ZINI JR.
Não só o volume das vendas externas tem crescido, como a diversificação dos mercados tem sido grande, o que é positivo. O gráfico que acompanha o texto mostra o destino das exportações brasileiras pelos principais mercados continentais. Os dados para 1994 referem-se ao período de janeiro a maio, mas a participação total no final do ano não deve ser muito diferente desses cinco primeiro meses. Em 1990, cerca de 13% do total das exportações brasileiras seguiram para países latino-americanos, contra 26% para Estados Unidos e Canadá e 35% para a Europa. Já em 1994, cerca de 26% das exportações estão sendo embarcadas para a América Latina e Caribe, 22% para os Estados Unidos e Canadá e 31% para a Europa. Nesse contexto, o principal fato do período recente é o crescimento do comércio com os países da América Latina. A participação dos países do Mercosul, por exemplo, cresceu de 4,1% para 13,6%. Mas as exportações para México, Chile e Colômbia também aumentaram. Esse processo de redirecionamento das exportações para a América Latina é normal. Tenho sido perguntado se não seria melhor ter mais vendas para Europa e Estados Unidos. A resposta, nesse caso, é não. Se os compradores estão pagando suas compras sem problemas, a melhor situação é ter mercados diversificados, pois isso protege a receita com exportações contra as oscilações cíclicas de cada economia. As vendas maiores para a América, ao sul do Rio Grande (México), resultam de vários fatores. Em primeiro lugar, os produtos brasileiros têm uma vantagem comparativa geográfica na região, pois os custos de transportes são menores vis-à-vis os produtos vindos da Europa e Ásia. Segundo, é natural que o comércio floresca entre países cuja renda "per capita", hábitos de consumo e perfil tecnológico dos produtos importados sejam comparáveis. Existe toda uma linha teórica iniciada com o economista sueco Staffan Linder para explicar o aumento do comércio intra-regional da Europa, baseada nesses fatores. Terceiro, as maiores exportações (e também as maiores importações) para a América Latina refletem a volta do crescimento econômico na região e o avanço das medidas de liberalização do comércio exterior após os difíceis anos 80. É previsível que países vizinhos, com perfis de consumo parecidos, que diminuem suas barreiras ao comércio, irão comerciais um volume maior de produtos. Isso, em termos sintéticos, é o que está se verificando. Não há, ademais, nada no horizonte que sugira que as mudanças indicadas no gráfico sejam problemáticas. Com a diversificação dos mercados é possível compensar as quedas de venda de um mercado com o aumento das vendas em outro. Os dados sobre o comércio brasileiro (crescimento das exportações de 9,3% no primeiro semestre de 1994 sobre o mesmo período de 1993 e aumento das importações de 16,7%) indicam que os temores de que a diminuição das tarifas, que passou a vigorar em julho do ano passado, fosse inundar o mercado com produtos importados, eram exagerados. Subjacente a essas mudanças, tem-se dado algumas reorganizações importantes no setor de exportação, com o processo de liberalização do comércio. Têm havido os efeitos chamados de "estáticos", que são os resultantes da alocação mais eficiente de recursos devido à abolição de barreiras distorsivas existentes anteriormente. E também tem-se verificado efeitos dinâmicos, como investimentos novos em certos setores e a ampliação das economias de escala, ambos levando ao aumento da competitividade comercial. Em alguns segmentos industriais, como os de produtos alimentícios, material de transporte, elétrico e mecânico, têm havido investimentos voltados para a nova realidade produzida pelo Mercosul. Essa reorganização comercial beneficia o consumidor, pois tem permitido um crescimento da variedade de produtos disponíveis. A conclusão é que o comércio exterior brasileiro está assentado em bases relativamente boas no presente. Após a década passada, em que as medidas restritivas proliferaram, temos hoje uma situação mais equilibrada e isso merece ser preservado e ampliado. ÁLVARO ANTONIO ZINI JR., 41, é professor da Faculdade de Economia e Administração (FEA) da USP e autor do livro "Taxa de Câmbio e Política Cambial no Brasil" (Editora da USP). Atualmente, é professor visitante na Universidade de Harvard (EUA). Texto Anterior: Projeção vai a 3,72% brutos Próximo Texto: Depois de agosto Índice |
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