São Paulo, domingo, 28 de agosto de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Como ficou o condomínio com o advento do real?

GABRIEL KARPAT

Com o advento da nova moeda, alterações na condução da administração dos condomínios puderam ser notadas. Se por um lado a ausência das altas taxas inflacionárias permitiu a execução de uma previsão orçamentária a médio prazo, por outro criou algumas armadilhas com as quais os síndicos não estavam habituados.
Muitos condôminos julgavam que o valor a ser pago em julho/94 se manteria nos mesmos valores do mês anterior, apenas que convertidos em reais. O que de fato não ocorreu, pois as contas de consumo de água, eletricidade e outras trouxeram embutidas a correção do período anterior.
É evidente que o valor do condomínio não se estabilizará, e esse ponto será, a meu ver, o mais polêmico entre os moradores de edifícios.
Para os síndicos acostumados a aplicar em fundão os excedentes de caixa, mesmo que por um ou dois dias, um aviso: aplicações em fundão em períodos inferiores a quatro dias acarretam perdas e não acréscimos. Isso porque os baixos rendimentos diários são inferiores aos impostos cobrados.
Mesmo os acordos com os inadimplentes, tão comuns nos períodos de inflação elevada, agora, em alguns casos é até preferível não fazê-lo. Caso o síndico abone as multas convencionais estipuladas em 20%, estará deixando de receber recursos para o condomínio.
Atenção especial deve ser dada para a negociação dos contratos. Por um lado a pressão das empresas prestadoras de serviços com contratos defasados, por outro o seu reflexo nas cobranças das taxas condominiais mensais. É preciso uma avaliação real da situação e o cálculo exato dos valores.
Cancelar os contratos mensais de conservação talvez seja o erro mais frequente. A título de pretensa economia cancela-se o contrato de manutenção e conservação dos equipamentos do edifício (excetuando-se o dos elevadores que é obrigatório por lei).
Erro, pois dificulta a elaboração da previsão de despesas mensais. Os reparos imprevistos não constarão da previsão. E a chamada indiscriminada de técnicos e empresas incapacitadas ocasiona a troca precoce dos equipamentos.
Adotar-se autogestão é o golpe de misericórdia na administração do condomínio. Condôminos desacostumados com os problemas da vida predial, ainda que com muita boa vontade, acabam adotando "soluções caseiras" para questões trabalhistas e outras que acarretam prejuízos futuros maiores do que a pretensa economia com empresas profissionais de administração. E em outros casos a assessoria de profisssionais como: advogados, contadores, processamento de dados, acabam saindo mais caro do que a taxa paga às empresas administradoras.
Finalmente, a profissionalização da administração torna-se uma solução mais evidente nesses períodos onde a eficácia deve ser uma constante na gestão dos negócios do edifício.
Manter o patrimônio é obrigação do síndico, mas gerir os recursos com eficiência e transparência também o é.

Texto Anterior: Empresa lança lotes em Holambra
Próximo Texto: Co-gestão é aprovada em prédio da zona sul
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.