São Paulo, domingo, 28 de agosto de 1994
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Aprovação de Clinton bate nível mais baixo

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

O presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton, 48, entra em férias neste fim-de-semana com a menor taxa de aprovação pública de seu governo: 39%.
Há um ano, quando também foi para a ilha de Martha's Vineyard (Massachusetts, Costa Leste) descansar, ele contava com o apoio de 52% dos norte-americanos, segundo pesquisas.
Nas respostas que dá aos entrevistadores nas sondagens, a maioria dos norte-americanos diz que o caso Whitewater não tem muita importância.
Mas a sucessão de denúncias contra o casal Clinton e as aparências de que com Bill e Hillary nada é transparente batem na credibilidade do governo no seu ponto mais fraco: a qualidade do caráter do líder.
Clinton é um presidente minoritário. Elegeu-se com 43% dos votos, em novembro de 1992, graças a um poderoso candidato independente, o empresário Ross Perot, que dividiu o eleitorado mais conservador do país.
Honestidade
Na campanha, o então presidente George Bush, do Partido Republicano, atacou o quanto pôde a questão da honestidade do seu principal adversário.
Mas suas investidas eram ingênuas: tentavam expor ao público deslizes da juventude do candidato democrata à eleição.
Whitewater, nome genérico que se dá a uma lista quase infindável de suspeitas em relação às atividades do casal Clinton na década de 80, trata do comportamento do Clinton maduro.
Pior ainda para o presidente: as investigações chegam no tempo cada vez mais perto do presente.
Quando foi substituído nas funções de promotor independente do caso, Robert Fiske Jr. estava iniciando a busca de documentos sobre a campanha eleitoral de Clinton para o governo de Arkansas em 1990.
Não há dúvidas de que o substituto de Fiske, Kenneth Starr, de quem se espera mais dureza com Clinton, irá fundo nessas apurações. Starr foi assessor do presidente George Bush.
Há indícios de que o financiamento da campanha de Clinton em 1990 foi feito por meio de suspeitos empréstimos pessoais ao casal Clinton concedidos por um banco pertencente a um antigo aliado político do presidente.
Passado
Um dos motivos por que muitos americanos dizem que Whitewater não é importante é o fato de a maioria das acusações se referirem a episódios ocorridos há muito tempo.
Mas se houver provas de que Clinton já aspirante à Presidência agia de maneira ilegal, a opinião pública pode dar mais importância ao caso.
No princípio, Whitewater era apenas um possível negócio imobiliário escuso no qual os Clintons tinham participação acionária de 50%, mas nenhum envolvimento gerencial imediato.
Depois, começaram a aparecer dúvidas sobre a participação de Hillary em falências fraudulentas de bancos, irregularidades nas campanhas de Bill em 1982 e 1984, a licitude dos investimentos de Hillary em bolsas de mercado futuro, as declarações de imposto de renda do casal, a lisura de sua associação com empresários.
O mais grave que o promotor independente poderá descobrir sobre os Clintons no caso Whitewater é que eles, já na Casa Branca, usaram o poder para ocultar ou dificultar a apuração de fatos referentes a seu passado, mesmo que remoto.
Se isso ocorrer, Clinton estará perdido.

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