São Paulo, domingo, 28 de agosto de 1994
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Livro discute casamento gay

RAY WADDLE
DO "USA TODAY"

Será que a igreja cristã abençoou as uniões homossexuais séculos atrás?
Um novo livro recém-publicado afirma que sim. Seus críticos dizem que não. Mas isso não importa para pessoas como Tom Petty, de Nashville.
Petty e seu parceiro, Allen Peters, tiveram sua união abençoada por um pastor no mês passado. "É bom ter um pastor que não nos trata como lixo", disse Petty, 31. "Cremos em Deus e acreditamos que vamos para o céu, apesar de sermos gays".
Com seu novo livro "Same-Sex Unions in Premodern Europe" ("Casamentos de Pessoas do mesmo Sexo na Europa Pré-Moderna"), John Boswell aumentou a discussão na comunidade religiosa sobre o lugar dos homossexuais aos olhos divinos.
Ele é um historiador católico na Universidade Yale, conhecido por fomentar polêmicas sobre homossexualismo e a história da igreja.
O pastor Rembert Truluck, que fez o casamento de Petty e Peters, disse que a necessidade moral e espiritual das uniões não será confirmada nem cancelada por livros como o de Boswell. "O importante é que Jesus nos libertou da religião doentia e abusiva".
Tampouco é provável que o livro mude a opinião daqueles para quem basta ler a Bíblia para saber que o homossexualismo é errado.
"Algumas pessoas dizem que a Bíblia tem 2.000 anos e que os tempos mudaram, mas minha lealdade primeira é a lealdade às Sagradas Escrituras, e por isso acredito que o homossexualismo é moralmente errado", disse o reverendo Jerry Sutton, da Igreja Batista Dois Rios, em Nashville.
O livro de Boswell aponta precedentes históricos para a realização de cerimônias solenes para unir casais homossexuais.
Publicado pela Villard Books, focaliza sua descoberta em textos litúrgicos medievais que relatam uma cerimônia homossexual que seria semelhante à liturgia dos casamentos heterossexuais.
Boswell diz que essas mesmas cerimônias de "irmandade" foram realizadas por padres em igrejas na região mediterrânea oriental.
Os críticos questionam algumas das traduções feitas por Boswell de palavras das cerimônias. Essas traduções dão a entender que "irmandade" significa relação amorosa ou homossexual.
Brent Shaw, revisor de livros da "The New Republic", um dos críticos, disse que as liturgias se basearam em costumes pré-cristãos de }parentesco ritualizado entre homens de poder, algo como os rituais de irmandade da Máfia.
No último capítulo do livro, Boswell escreve que "o matrimônio heterossexual" era frequentemente visto como acordo dinástico ou de negócios, onde o amor, quando ocorria, surgia após a união carnal. Os homens e mulheres comuns tendiam a investir sentimentos que o século 20 qualificaria como 'românticos' em relacionamentos com pessoas do mesmo sexo, fossem eles amizades apaixonadas ou uniões estruturadas e institucionalizadas.
Tradução de Clara Allain

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