São Paulo, segunda-feira, 29 de agosto de 1994 |
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FHC teme alta dos preços e quer desqualificar taxa oficial de inflação
FERNANDO RODRIGUES
A estratégia será usar outros índices, que apresentem resultados melhores para o candidato. A inflação medida pelo IPC-R deve ficar entre 5% e 6% este mês. A equipe de TV de FHC foi instruída a usar, quando for caso, apenas o índice IPC-Fipe, que deve apontar uma inflação próxima de 2% este mês. "Quem quiser ficar falando do IPC-R vai se arrebentar", disse ontem o coordenador do programa de governo de FHC, o economista Paulo Renato Souza. Souza fez no sábado uma reunião com a equipe de comunicação tucana, para unificar o discurso sobre a alta de inflação. Quando indagado sobre a alta de preços este mês, FHC vai responder com uma frase semelhante à utilizada ontem pelo economista Paulo Renato Souza: "A inflação está caindo. O caso do IPC-R ocorre por o IBGE utilizar uma data anterior ao final do mês. Mas o que importa é o povo perceber que os preços não estão subindo nos supermercados." Se o IPC-R deste mês ficar em 5,5%, a inflação acumulada nos dois meses de real será de 11,91%. Esse índice foi criado para corrigir os salários. O IPC-R reflete, segundo o governo, as perdas que um trabalhador vai acumular no período que vai desde o dia 1º de julho até a sua data-base. O principal cabo eleitoral de FHC é o real. Num discurso de 15 minutos na sexta-feira à noite, na região da Grande Florianópolis (SC), o candidato citou o real, direta ou indiretamente, 14 vezes –quase uma vez por minuto. O fato de o IPC-R estar apontando uma alta de preços maior do que a esperada por FHC preocupou o comando da campanha. Por isso, a importância do índice oficial será minimizada. No caso de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) atacar o programa econômico por causa da alta de preços, Paulo Renato Souza disse: "Para nós, será uma maravilha." A diferença que o IPC-R apresentará em relação ao IPC-Fipe ocorre por causa da metodologia utilizada na coleta de dados. O IPC-R coleta preços entre os dias 20 de cada mês. Depois, compara com a variação registrada no período imediatamente inferior. Por causa dessa data de coleta, trata-se de um índice que tarda mais a apresentar uma reação sobre o comportamento dos preços. Mas é o índice que será usado para repor as perdas salariais. O grau de desqualificação –ou minimização da importância– que FHC vai aplicar ao IPC-R em seus discursos dependerá de como os trabalhadores reagirem. Antes da implantação do real, um trabalhador assalariado recebia aumentos mensais, qua acompanhavam a inflação. Para os que podiam manter uma conta bancária, o dinheiro estava sempre protegido em aplicações financeiras. Para os trabalhadores que não conseguiam aplicar os seus salários –por não terem como abrir uma conta bancária– a situação atual é melhor. Mas os cerca de 12% de inflação acumulados em dois meses de real começam a complicar de novo o planejamento econômico do eleitor de baixa renda. O que os coordenadores da campanha tucana querem evitar é uma reação negativa à alta de preços. Pelo menos, até a eleição. Próximo Texto: FHC faz campanha na festa do peão em Barretos Índice |
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