São Paulo, segunda-feira, 29 de agosto de 1994
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Tiroteio marca um ano de chacina

JOÃO BATISTA DE ABREU
DA SUCURSAL DO RIO

Um tiroteio marcou a véspera do primeiro aniversário da chacina da favela de Vigário Geral, na zona norte do Rio.
Soldados da PM trocaram tiros, na madrugada de ontem, com traficantes perto da estação de trens suburbanos na entrada da favela.
Durante o dia, várias atividades lebraram o dia da chacina, quando 21 moradores foram metralhados por um grupo de homens encapuzados, suspeitos de serem PMs.
Há duas versões para o incidente da madrugada de ontem. De acordo com a PM, três patrulhas do 9º BPM (Rocha Miranda) foram recebidas a bala por traficantes que ocupavam a passarela entre a favela e a rua Bulhões Marcial.
Os policiais só conseguiram deixar o local com a chegada de reforços dos batalhões de Duque de Caxias, Olaria e Ilha do Governador.
Mas os moradores de Vigário Geral interpretaram a presença dos PMs como tentativa de intimidação na hora em que 80 pessoas, entre elas parentes de vítimas, participavam de uma vigília pelo primeiro aniversário da chacina.
"O que eles faziam aqui numa hora dessas?", perguntava o sociólogo Caio Ferraz, coordenador da Casa da Paz, onde acontecia a vigília. Foi nessa casa –utilizada desde junho como espaço comunitário– que oito pessoas de uma família de evangélicos foram assassinadas na madrugada de 29 de agosto do ano passado.
Caio, nascido e criado em Vigário Geral, classificou como provocação a presença dos policiais ontem na favela. "Os mecanismos de controle social estão tão confusos que é difícil acreditar numa operação. Além do mais, não se desarticula o tráfico pegando peixe. Só pegando tubarão."
Entre as versões desencontradas, circulou a notícia de que um traficante teria sido levado ferido para o posto de assistência médica de Irajá, onde chegou morto, mas os moradores disseram que desconheciam a informação.
Ontem de manhã foi realizado um culto ecumênico na Casa da Paz, com a participação de representantes do movimento Viva Rio.
Ao meio-dia, um grupo de ginastas, liderados pela atleta olímpica Luiza Parente, fez uma exibição em cama elástica na quadra de esportes da Associação de Moradores, local onde há um ano os corpos das pessoas chacinadas ficaram expostos.

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