São Paulo, segunda-feira, 29 de agosto de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

'Só tive ajuda de meus pais'

DA SUCURSAL DO RIO

Um ano após a chacina de Vigário Geral, as famílias das 21 pessoas assassinadas enfrentam a burocracia e os meandros da Justiça para receber pensões da Previdência e indenizações do Estado.
Iracilda Toledo, mulher do agente ferroviário Adalberto de Souza, só passou a ganhar pensão oito meses após a morte do marido. "Nesse tempo, só tive ajuda de meus pais e irmãos."
Hoje, Iracilda mora com os filhos, de 13 e 10 anos, numa localidade do município de Campos (norte fluminense). Ela teme revelar o lugar exato com medo de represálias.
Entre os acusados da chacina, 25 ex-PMs continuam presos na Polinter (centro) e quatro policiais civis estão no Ponto Zero, em Benfica (zona norte).
"Não é só esse crime, mas todos os outros crimes como esse não tiveram punição. Mas tenho certeza que Deus vai apontar os culpados. Pode durar um, dois ou até dez anos", afirma Iracilda, que frisa que nenhuma indenização pagará a vida do marido.
Sem previsão de data, o julgamento dos acusados pela chacina só deverá acontecer em 95. Todos foram presos em menos de dez dias após a noite de 29 de agosto do ano passado.
As mortes dos moradores da favela teriam sido uma vingança do grupo de policiais contra o assassinato de quatro PMs ocorrido na véspera da chacina.
Situação semelhante a de Iracilda enfrenta Célia Maria Lourenço, viúva do enfermeiro Guaraci de Oliveira Rodrigues. Ela recebe R$ 84,06 por mês como educadora numa creche comunitária da Penha. A indenização depende da confirmação do envolvimento de policiais na chacina.
Ela contou que recentemente seis parentes de vítimas foram procurados pela Procuradoria da Defensoria Pública do Estado, para acompanhar na Justiça o pedido de indenização. Célia atribui o interesse da procuradoria à eleição.
A principal testemunha de acusação no processo da chacina é o informante da polícia Ivan Custódio de Lima, que denunciou uma rede de policiais civis e militares responsáveis por crimes no Rio.

Texto Anterior: Tiroteio marca um ano de chacina
Próximo Texto: Polícia encontra corpo baleado em favela carioca
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.