São Paulo, terça-feira, 30 de agosto de 1994
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FHC e Lula divergem sobre economia

VINICIUS TORRES FREIRE
DA REPORTAGEM LOCAL

Os programas de Fernando Henrique Cardoso e de Luiz Inácio Lula da Silva são duas cartas de intenções muito parecidas –a diferença está no modelo de financiamento das propostas.
A descentralização do sistema de saúde, com a implantação definitiva do Sistema Único de Saúde, a prioridade à educação, com ênfase no problema da qualidade, e muitos itens do programa para agricultura, com exceção da reforma agrária, são alguns dos pontos de coincidência (veja o quadro).
No entanto, os planos de governo, no papel, mais declaram princípios do que explicitam maneiras de realizar as propostas –e neste aspecto residem as verdadeiras diferenças entre eventuais governos FHC ou Lula.
No modo de realizar os programas, isto é, dar ao país um padrão de desenvolvimento para que se obtenham recursos, tucanos e petistas se diferenciam em três pontos básicos.
O PT acredita na possibilidade de se partir imediatamente para a formação de um mercado interno forte, baseado no aumento da renda dos trabalhadores. Isso atrairia investimentos externos e internos.
Para complementar seu modelo, o PT prevê que o Estado deve investir em obras de infra-estrutura econômica e social, preferencialmente nas que empreguem muita mão-de-obra. Pequenos negócios deverão ter créditos especiais para pequenos negócios.
O financiamento público seria baseado em fundos sociais (FGTS, FAT), na atração de recursos de pensão e nas parcerias com a iniciativa privada.
A taxação de grandes fortunas e o dinheiro de privatização -de estatais não-estratégicas (exclui minérios, petróleo e telecomunicações), complementaria esses fundos.
O programa de FHC coincide em parte com os pontos citados do plano petista. Não fala em taxação de grandes fortunas e difere em dois outros itens que determinam os modelos econômicos que cada partido pretende implementar.
FHC não prevê explicitamente restrições a privatizações nem coloca na base de seu programa econômico o aumento de salários, o que seria consequência no modelo tucano. Mais importante, o primeiro ponto do programa de criação de empregos de FHC é a pedra fundamental de sua candidatura –o Plano Real.
Esses três pontos de atrito entre os programas é que na verdade vão criar o padrão de crescimento da economia brasileira e, portanto, financiar as "cartas de intenção" declaradas pelos por enquanto favoritos ao Planalto.
Lula aposta na mudança da estrutura da economia para fazer o país crescer. FHC prefere desregulamentá-la e atrair investimento externo para financiar a infra-estrutura hoje já quase insuficiente.

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