São Paulo, terça-feira, 30 de agosto de 1994
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Mellão quer ressuscitar bloco liberal

MARCELO MENDONÇA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Aos 38 anos, João Mellão Neto (PL-SP) tenta a reeleição para a Câmara dos Deputados com a idéia de ressuscitar o "bloco da economia moderna", um grupo de parlamentares defensores do liberalismo econômico.
A exemplo do que ocorreu no início desta legislatura, em 1990, ele quer se juntar de novo a congressistas como Delfim Netto e Roberto Campos para defender teses como a privatização, desregulamentação da economia e Banco Central independente.
Ministro do Trabalho e da Administração em 1992, durante o governo Collor, e secretário das administrações municipais de Jânio Quadros e Paulo Maluf em São Paulo, Mellão defende uma assembléia exclusiva para revisar a Constituição.
Leia a seguir os principais pontos de sua entrevista à Folha.
Folha - Qual seria o seu principal projeto uma vez eleito?
João Mellão Neto - Entendo que o deputado federal, como é o meu caso, que defende teses ideológicas –eu sou defensor do liberalismo, tenho escrito livros sobre isso e todo o meu eleitorado é baseado nisso– eu não tenho um projeto específico, eu defendo as teses liberais de forma geral.
Folha - E quais o sr. destacaria como principais?
Mellão - Privatização, desregulamentação, independência do Banco Central... Eu aprendi que, pelo sistema atual, não adianta um deputado apresentar um projeto de lei, porque pelo sistema atual de funcionamento do Congresso são ínfimas as chances desse projeto virar lei, e vai demorar três, quatro anos.
Na verdade, dependendo da conjuntura, nós mais reagimos que agimos. Então nós tivemos nesta legislatura, junto com Roberto Campos, Delfim Netto, César Maia e outros, "o bloco da economia moderna", que funcionou durante algum tempo. Que era o quê? A cada iniciativa do Executivo, a cada situação da conjuntura, nós editávamos uma espécie de um boletim mostrando qual era a visão liberal sobre aquele assunto específico, e distribuíamos entre os colegas, fazíamos a catequese dos colegas deputados.
Eu pretendo ressuscitar esse bloco da economia moderna, espero ter o Roberto Campos ainda como companheiro no Congresso. Foi uma grande idéia, que no início do governo Collor, com aquela vocação imperial de governo, não permitiu que funcionasse direito. Agora é possível.
Folha - O Congresso deve se ocupar da revisão constitucional logo após a posse?
Mellão - Eu preferiria que não fosse o Congresso a fazê-la, e que se chegasse a uma fórmula em que constituintes fossem eleitos independentes de partidos –até 150 pessoas de renomado saber.
Folha - Como o sr. se posiciona sobre a fidelidade partidária e o sistema eleitoral?
Mellão - Eu sou a favor da fidelidade partidária. Ocorre que as lideranças dos partidos não contam com a adesão total do partido, como se vê nos EUA, Inglaterra ou França. E os líderes muitas vezes tomam decisões à revelia das bancadas. Então, a fidelidade partidária seria entregar na mão das lideranças o poder representativo que nós temos. Quanto ao sistema eleitoral, eu defendo o voto distrital misto.
Folha - Como seria o seu relacionamento com um governo Fernando Henrique ou Lula?
Mellão - O relacionamento de um parlamentar com o Executivo, seja a favor ou contra, tem que levar em conta em primeiro lugar o país. Eu nunca defendi uma postura xiita, de adesão automática ou oposição sistemática. Apoiarei tudo que atender ao ideário liberal.

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