São Paulo, terça-feira, 30 de agosto de 1994
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O drama de FHC

JOSIAS DE SOUZA
DIRETOR-EXECUTIVO DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Quando trocou o Ministério da Fazenda pela campanha, Fernando Henrique era um candidato indigente. Duvidava-se à época de sua capacidade de amealhar votos.
Hoje, as pesquisas indicam que é dono do mais vistoso patrimônio eleitoral. Não o obteve graças ao prestígio pessoal, mas ao surpreendente desempenho do real.
A condição privilegiada começa a trazer-lhe aborrecimentos. Os pedidos que chegam ao seu comitê dão uma noção das dificuldades que terá para conciliar interesses.
Antes de eleito, Fernando Henrique já sofre o cerco da fisiologia. O deputado Gastone Righi, do PTB paulista, oferece um bom e vistoso exemplo.
Gastone fez chegar aos ouvidos do candidato um velho sonho: quer ser ministro do Tribunal de Contas da União. Há meses vem se mexendo como um louco pela sinecura.
É para livrar-se de pedidos como o de Gastone que Fernando Henrique trama a formação de um grande bloco político de sustentação a um eventual futuro governo tucano.
Algo que nasceu como uma especulação começa a ganhar ares de obsessão. Se eleito, Fernando Henrique está decidido a tentar compor um frentão que lhe dê apoio no Congresso.
Ele quer do seu lado a fatia não-quercista do PMDB, um naco do PDT e, mais difícil, um pedaço do próprio PT, seu rival direto nesta eleição.
Ao nome do petista Francisco Weffort, sempre mencionado no comitê tucano como um ministeriável, soma-se o de Luiza Erundina.
Pesquisa realizada pelo Datafolha junto à militância petista mostra que não será fácil atrair petistas para um primeiro escalão que não seja comandado por Lula.
Ouviram-se 362 militantes, no comício do PT em São Bernardo do Campo, sábado passado. 61% são contra a entrada do PT num eventual governo de Fernando Henrique. 30% são a favor.
A operação maquinada pelo tucanato, se executada, daria à silhueta do ainda hipotético governo Fernando Herique a aparência de um monstro.
O novo governo teria o bigode grisalho de Antônio Carlos Magalhães, o chapelão de José Eduardo Andrade Vieira, as olheiras de José Serra, o desalinho de Erundina, a calva de Leonel Brizola e a barba escura de Lula.
O sonho do candidato parece irrealizável. Se eleito, Fernando Henrique parece mesmo condenado a uma entre duas alternativas: ou vira um traidor, ou se contenta com os Gastones que hoje se acercam de seu comitê.

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