São Paulo, terça-feira, 30 de agosto de 1994
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De paz e Amoroso aos três reis Magnos

MATINAS SUZUKI JR.
EDITOR-EXECUTIVO

Meus amigos, meus inimigos, back to Brazil, chegado do país mitológico de Julio Cortázar –que está sendo justamente rememorado por lá– e vejo uma vitalidade surpreendente no futebol brasileiro.
Sí, surpreendente. Porque havia uma crença tradicional (fundamentada ou não, não seria capaz de dizer) que rezava que após Copa, principalmente com o Brasil campeão, haveria uma ressaca de futebol.
Uma espécie de fastio, de cansaço natural, de fadiga do material, comum após as orgias, os carnavais e os momentos de fulguração prazeirosa.
Além disso, criticou-se (justamente) a fórmula complicadíssima do campeonato e (também justamente) o esvaziamento da força de punição –e portanto, da prevenção– do cartão amarelo.
Mas, sabe-se lá direitinho por que fenômeno, em que escondida fonte da renovação o futebol encontra suas forças e taí: uma rodada empolgante, com a ótima média de três gols por jogo.
Mais do que isto: o surgimento de "new faces", de novos jogadores, e jogadores com ligação direta com o gol. Mocidade alegre. Mocidade independente. A vida é amiga da arte. E do gol.
No Flamengo –uma verdadeira fabrica de talentos, nos últimos anos– já não bastasse a presença marcante, em vários sentidos, do Sávio, ainda aparece agora o Magno para a magnética assim cantar.
Por três vezes ele visitou o altar do futebol. Os três reis Magnos. Lá na outra fábrica de produtos de exportação, no Guarani do Brinco de Ouro da Princesa, aparece um craque chamado Amoroso.
Ô Amoroso, que belo nome para um craque, meu filho! Amoroso, o nome de um disco de João Gilberto! Precisa mais? Precisa. De mais gols. O Guarani estava cheio de Amoroso para dar. Fez quatro.
O Serginho Chulapa estava cheio de ódio para dar. Deu um chute metafórico. Na fonte de potência do diretor adversário. E quem deve gostar de vitória do Guarani é o carioca Rubem Fonseca.
Ele escreveu um livro sobre o Carlos Gomes. E o Guarani está jogando em ritmo de ópera. Enquanto os times do Rio estão igual ao SBT: liderança absoluta do segundo lugar.
Flamengo, Botafogo e Fluminense estão em segundo lugar. Com seis pontos. O Vasco está em terceiro. Também com seis pontos. Os times do Rio continuam iguaizinhos ao SBT: "Éramos Seis".
E adivinhe quem é o jogador mais solidário do Brasileirão? O Edmundo. Ele mesmo. Está com a melhor média de assistência do campeonato. O Edmundo pode ser a rima e a solução.
Eu não disse que o futebol brasileiro está surpreendente? De "fominha", o Edmundo passou a ser o jogador que mais assistência dá às múltiplas finalizações corretas do Palmeiras.
E esta coluna vem cantando e contando que o Corinthians está apostando demais no curto prazo. O curto prazo é o fio da navalha, a beira do abismo, a corda do equilibrista. Bobeou, o mundo caiu.
Logo no Maracanã. Tomou um balaio. E enfiou o Viola no saco. Como mostrou a Folha de ontem, a média de idade do Flamengo (fora o goleiro Gilmar) é 21 anos. E quase todo jogadores são da casa.
O alvinegro precisa de um plano de estabilização. De uma política consistente. De nada adianta a arcaica filosofia das contratações de oportunidades. Dos times de ocasião. Que nunca são campeões.
Enquanto isto, lá sertão do Estado, um cam-peão brasileiro dava um show em cima dos grandes cam-peões americanos. Brasil bom de bola, bom de sela. O chão é mesmo o limite.
E entre gols, gals e a suprema Diana que andam por aqui –e que abriu a Copa– amanhã o São Paulo tenta o tri.

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