São Paulo, quinta-feira, 1 de setembro de 1994
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FHC e Lula se embrulham na inflação do real

CAPITAL POLÍTICO

ELEONORA DE LUCENA
SECRETÁRIA DE REDAÇÃO

O número 5,46% abriu um novo capítulo na campanha eleitoral. Foi a inflação oficial de agosto, medida pelo IBGE em nove regiões metropolitanas e duas capitais. A taxa –que serve para indexar os salários– provocou pânico no comitê tucano e euforia na turma petista. Ambos cometeram exageros.
Primeiro os partidários de Fernando Henrique Cardoso tentaram desqualificar a taxa –criada pela própria equipe que apóia o PSDB. O ministro Rubens Ricupero chegou a afirmar que o número oficial não correspondia à "inflação verdadeira".
Numa operação de malabarismo, candidato, ministro e técnicos do governo tentaram explicar que o índice de agosto estava "contaminado" com a inflação do cruzeiro real. Para fazer contraponto à má notícia, mostraram outros indicadores que apontavam quedas ou altas menores.
Já faz parte da história. Toda a vez que a inflação pós-plano econômico tem problema, o culpado é sempre o índice. O governo, que inventa a fórmula de cálculo da taxa, acaba descobrindo, na última hora, uma série de defeitos na metodologia –se o número politicamente é ruim.
Foi assim, por exemplo, quando o Plano Collor começou a entrar em declínio. A inflação subia e a então ministra Zélia Cardoso de Mello esbravejou contra o índice. Seu braço direito, Antônio Kandir, chegou a sugerir a dessazonalização da taxa (a eliminação de pressões de preços de produtos que têm variação maior em determinadas épocas).
No caso, passávamos do verão para o inverno e Kandir não admitia o fim das liquidações de roupas de praia e a chegada dos preços dos casacos de lã. A equipe culpou a coleção de inverno pelo estrago do número.
Como saída política, o governo Collor queria mudar o jeito de fazer a conta. Era como pleitear a compra de camisetas de manga curta em pleno inverno. Mudar a regra em pleno jogo. A proposta acabou não vingando.
Muito antes, o ministro Mário Henrique Simonsen já havia colocado a culpa no chuchu. Agora, com Ricupero, a ira oficial se volta contra a vagem, os aluguéis, a passagem de ônibus...
Assim como o número de agosto é realidade, também é real que a inflação caiu de 50% para 5%. Foi esse despencar que virou o quadro eleitoral. E é prematuro pensar que o índice de agosto possa acabar com o plano e seus efeitos políticos.

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