São Paulo, quinta-feira, 1 de setembro de 1994
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Hospital faz cirurgia no escuro

ANDRÉ MUGGIATI
DA REPORTAGEM LOCAL

O Hospital São Paulo, da Escola Paulista de Medicina, considerado um dos melhores do país, tinha ontem à noite pacientes esperando por internação havia mais de 48 horas no chão, outros recebendo transfusão de sangue no corredor e uma biópsia foi feita na sala de curativos.
Para o médico Sun Rei Lin, 35, chefe do plantão cirúrgico do hospital, a situação é "triste".
O paciente Izaias Pinheiro da Cruz, com o rosto cheio de lesões e a perna fraturada, aguardava desde segunda-feira a liberação de um leito de internação para que pudesse ser submetido a uma cirurgia.
Ao seu lado aguardava em uma maca, também desde segunda-feira, o mineiro Adair Vitor dos Santos.
Santos tinha suspeita de linfoma (câncer nos gânglios linfáticos) e não podia se deitar porque se sentia sufocado.
Na manhã de ontem, os médicos chegaram à conclusão de que ele deveria fazer uma biópsia (exame em que se retira uma parte do tumor). Não havia vagas no centro cirúrgico.
Às 17h os médicos decidiram que a biópsia era urgente.
Foi feita então na sala de suturas do pronto-socorro, sem as condições de assepsia adequadas.
Durante a cirurgia, queimou a lâmpada que iluminava o paciente e ele teve que aguardar com o tórax aberto a troca da lâmpada.
Para Antônio Vitor Neto, irmão de Santos, não há má vontade no atendimento por parte dos médicos. "Mas em uma noite aqui eu vi coisas que não dá para imaginar."
Santos veio no sábado de Belo Horizonte, onde não havia conseguido atendimento.
"Pensamos que a situação em São Paulo era melhor, mas agora eu vejo que estava enganado", diz seu irmão.
Antes de procurar o Hospital São Paulo, o paciente foi recusado por diversos hospitais públicos, entre eles o Hospital das Clínicas, a Santa Casa e o Heliópolis.
No corredor, Paulo, 14, com anemia crônica, fazia uma transfusão de sangue sentado em uma cadeira de rodas.
Para Lin, essas não são as condições adequadas para uma transfusão de sangue. "Mas não temos como recusar o paciente."
O Hospital São Paulo possui 643 leitos, dos quais 121 estão desativados por reformas. O centro cirúrgico possui 12 salas.

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