São Paulo, quinta-feira, 1 de setembro de 1994
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'Minha função é tapar buracos', diz médico

ANDRÉ MUGGIATI
DA REPORTAGEM LOCAL

Acary Souza Bulle Oliveira, 37, plantonista administrador médico do Hospital São Paulo, compara a situação do atendimento no hospital com a violência no Rio.
"Com o tempo, você se acostuma e passa a achar essas coisas normais."
Para ele, as causas dos problemas são muitas. "A verba para a saúde é pequena, mal administrada, desviada e distribuída de acordo com interesses políticos, mas a culpa é de todos nós."
"Eu passo o dia inteiro no hospital dizendo 'não' às pessoas porque não temos condições de atender e o que ouço em troca é um 'obrigado doutor"'.
Para ele, isso mostra que o cidadão brasileiro é acomodado e não exige um atendimento de saúde decente.
Oliveira afirma que, apesar dos problemas, o Hospital São Paulo ainda é um dos melhores, de primeira linha.
"É por isso que o centro cirúrgico está sempre lotado. Só nós fazemos as cirurgias mais difíceis e elas são as mais demoradas".
Oliveira se sente desgastado no exercício da profissão. "Eu não fiz medicina para isso", diz. "Minha função aqui é só ficar tapando buraco."
O desgaste é sentido por todos os funcionários do hospital.
O chefe da equipe de enfermagem, José Aparecido Zuanetti, 41, teve problemas cardiológicos, com elevação da pressão, no mês passado. Para ele, esse problema no coração foi causado pelo estresse gerado por seu trabalho.
"Chega um paciente com apendicite, que precisa de atendimento imediato, e sou eu quem tem que arrumar um lugar para ele. Às vezes não tem, mas a gente precisa conseguir", diz.
Para Oliveira, a superlotação do Hospital São Paulo se deve ao fechamento de muitos outros hospitais, de alguns anos para cá.
"Os profissionais da saúde também não querem trabalhar em hospitais públicos, pois os salários são muito baixos."
Para o médico Sun Rei Lin, chefe do plantão da cirurgia, "é feito o máximo pelo paciente, com o mínimo de recursos que se encontram disponíveis".(André Muggiati)

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