São Paulo, quinta-feira, 1 de setembro de 1994
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VW e Ford iniciam separação

EDUARDO VIOTTI
EDITOR DE VEÍCULOS

A Autolatina começa a se desintegrar. Ford (49%) e Volkswagen (51%), que se uniram em 1986 para formar uma das maiores empresas nacionais, já iniciaram o processo de separação.
Um grupo de trabalho, formado em Buenos Aires (Argentina) no último dia 6 de julho, decide o futuro das duas empresas.
O grupo de executivos alemães (VW) e norte-americanos (Ford) voltou a se reunir há cerca de um mês no Hotel Transatlântico, próximo à antiga sede da Autolatina, na zona sul de São Paulo.
Entre as decisões tomadas pelos executivos das duas empresas matrizes, a principal diz respeito aos produtos, e já foi oficializada pelo presidente da Autolatina, o belga Pierre-Alain De Smedt: não haverá mais carros híbridos –plataformas Ford com motores VW e vice-versa (caso do VW Logus).
Isso significa –de cara– que o objetivo principal da associação, diminuir as inversões para o lançamento e início de produção de um novo modelo, deixa de existir.
Significa, na prática, que os VW Logus e Pointer e o Ford Versailles estão com seus dias contados. Ao término de sua vida útil como produtos vendáveis, vão cessando de ser produzidos.
Esse prazo, no Brasil, é muito flexível. O Opala durou 23 anos, o Chevette, 20, a Kombi segue firme desde 1957.
As redes de revendedores das duas marcas festejam a dissolução. Os distribuidores Ford estão exultantes. Foram recebidos na semana passada em Detroit por Alex Trotman, principal executivo da Ford norte-americana.
A visita, "de cortesia", garantiu a tranquilidade aos revendedores da marca durante a transição.
Um revendedor presente garante que Trotman indicou novos rumos para a Ford brasileira. "Afinal, a participação da Ford ainda neste ano pode beirar as 200 mil unidades", disse. "Com esse volume, o país seria o terceiro centro de importância para a marca."
"Estaremos integrados ao Global Ford", afirmou, "os lançamentos serão todos internacionais e simultâneos com o mundo".
O clima entre os revendedores Ford é quase de euforia. "Antes da associação detínhamos mais de 23% do mercado", afirmou um grande revendedor Ford, "ao final dela temos pouco mais de 10%".
Ao contrário, a Folha apurou que o clima dentro da Autolatina é de cisão total. "A turma toda já começou a trabalhar em ritmo de separação", afirma um executivo.
"Cada um puxa para o seu lado", diz. Na empresa, os rumores estão acelerados: "Tudo se resolve em outubro"...
A ruptura ocorreu a partir das dissensões geradas pela negativa da Volkswagen –acossada pela sua rede de distribuidores– em compartilhar com a Ford a plataforma do novo Gol.
O mercado hoje é comprador de carros "populares", mais baratos. Cai a venda de carros médios e grandes, em proveito dos pequenos. A Ford não tem modelo na faixa inicial.
Vai ter que importar o Fiesta. Serão 20 mil unidades inicialmente, antes da montagem em CKD ("complete knocked down", o carro vem desmontado), que pode ser feita na fábrica do Taboão (São Bernardo do Campo, SP) ou no Espírito Santo. É pelo porto de Vitória (ES) que entrarão os pequenos da Ford, vindos da Europa.
Em 1996, os Fiesta serão fabricados no Brasil. Logo depois, o presidente alemão da Ford Brasil, Udo Kruse, volta a Portugal.
Ontem, em Brasília, Smedt comunicou ao presidente Itamar Franco a redução de US$ 500 no preço do Fusca, que passa a custar US$ 6.750.
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