São Paulo, quinta-feira, 1 de setembro de 1994
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Edimburgo é maior circo de arte do mundo

DAVID DREW ZINGG
ESPECIAL PARA A FOLHA

O Festival Internacional de Artes de Edimburgo é o maior do mundo. A versão 1994 vem sendo a melhor dos quase 50 anos de vida desse circo das artes.
A grande boa notícia do festival deste ano foi a reabertura triunfal do Festival Theatre. Ele é um ex-velho salão de bingo, ex-cinema e ex-teatro.
O velho Empire Theatre ergueu-se das cinzas de sua glória vitoriana e finalmente proporciona à cidade um local adequado para apresentações em grande escala.
O novo teatro, com sua fachada de vidro que brilha nas frias noites do verão escocês, possui o maior palco funcional da Europa.
O programa de música, dança e teatro deste ano foi o suficiente para fazer um visitante da Sambalândia sofrer uma prisão de ventre cultural aguda. O Festival de Edimburgo atrai o melhor dos melhores talentos do mundo, em números simplesmente assombrosos.
Nas últimas semanas do verão, o visitante pode assistir, ouvir e absorver alta cultura em quantidade suficiente para uma vida inteira.
As opções são variadas ao extremo. A título de entrada, temos uma interpretação esdruxulamente vanguardista da "Orestéia", de Ésquilo, que dura rápidas sete horas e meia. Detalhe: a peça é apresentada em russo, sobre um rinque de patinação no gelo.
O diretor desse espantoso superépico é o grande Peter Stein. Seu nome provavelmente será reconhecido por mais ou menos três e meio leitores brasileiros deste artigo, mas, em todo caso, Ésquilo é um pouquinho superior à "Escolinha do Professor Raimundo".
O programa inclui 587 companhias de 36 países, que fazem espantosas 13.415 apresentações.
As opções variam desde a versão apresentada pela Companhia Australiana de Ópera do "Sonho de uma Noite de Verão" até 78 exposições de artes plásticas.
Alguns dos títulos malucos seduzem o turista da Bananalândia. Por que não tentar "Elvis está Vivo e Ela é Linda" ou "Papai Não Quis Me Comprar um Bauhaus"?
Este ano o festival também serviu a seus visitantes uma peça de dança estarrecedora daquele mestre do balé descalço que é Marc Morris. Marc Morris está refazendo a dança moderna. Ele é obrigatório para qualquer fã da dança.
A dança esteve bem servida em Edimburgo. Ao lado de Morris também houve Merce Cunningham e o mestre Balanchine.
Para os fãs ansiosos de Balanchine, houve uma retrospectiva de várias de suas obras-primas, apresentada pelo notável Miami City Ballet. A autenticidade foi garantida pelo diretor Eduard Villela, um dos maiores astros de Balanchine.
O lado musical do Festival esteve liberalmente salpicado de Beethoven arroz-com-feijão, mas também mostrou outras surpresas.
A Opera North comemorou o centenário da morte do compositor Emmanuel Chabrier com uma nova versão de seu "Le Roi Malgré Lui". A London Philarmonic tocou cenas do épico "Faust", de Schumann, e a Cleveland Orchestra apresentou "Central Park in the Dark", do compositor Ives.
Assisti o festival de Edimburgo pela primeira vez em 1958. Parece que a cada ano ele fica melhor.

Tradução de Clara Allain

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