São Paulo, sexta-feira, 2 de setembro de 1994
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Assessores muito especiais

JANIO DE FREITAS

As informações colhidas em Washington e Nova York pelos correspondentes Carlos Eduardo Lins da Silva (Folha), Argemiro Ferreira ("Correio Braziliense") e Ana Maria Mandim ("Jornal do Brasil") eliminam qualquer resquício de verdade na negação de que assessores do presidente americano Bill Clinton dão assessoria à campanha de Fernando Henrique Cardoso.
Três jornalistas a quem se pode devotar o melhor respeito profissional, aqueles correspondentes valeram-se de fontes de informação diversa e, além de chegarem à mesma confirmação da notícia dada pelo "The Washington Post", levantaram pormenores muito sólidos. Entre outros, a presença permanente de dois dos assessores em Brasília, as vindas periódicas de um terceiro, os peessedebistas que fizeram os contatos iniciais para estabelecer a assessoria (um deles, o próprio candidato). As negações feitas por Fernando Henrique e pela cúpula de sua campanha esboroam diante das informações já recolhidas pelos correspondentes.
A contratação de assessores estrangeiros não é ilegal, desde que obedecidas as exigências de praxe. Já do ponto de vista ético é, no mínimo, duvidosa. Parte do que aí seria discutível foi eliminada, porém, por Fernando Henrique e pelo chefe de sua campanha, Pimenta da Veiga. A conotação comprometedora foi dada por ambos, ao negarem a assessoria americana. Caso isto lhes parecesse "normal", "não ter nada de mais, se existisse", como ambos disseram, não precisariam ter negado na segunda interpelação de repórteres o que não negaram na primeira. Fernando Henrique: "Eu não conheço essa contratação" – o que não é uma negação do fato, mas tão só uma forma bem conhecida dos escapismos de político. Pimenta da Veiga, mais do que a dubiedade, fez a confirmação: "Casualmente, numa reunião marcada com os consultores (americanos) eu não pude ir". Uma hora depois, negava a assessoria.
A parte restante do que poderia ser discutido, do ponto de vista ético, elimina-se com a condição dos assessores: são assessores, com direito até ao uso de crachá da Casa Branca, do presidente de outro país, dando colaboração à campanha de um determinado candidato à Presidência do Brasil.
Há nisso, é evidente, o envolvimento de mais do que a ética pessoal e política de um candidato. Há algo que põe em questão os interesses nacionais brasileiros, em relação aos interesses nacionais do país dos assessores presidenciais. Ou seja, há algo da própria soberania brasileira em questão.
Nota sem fiscal
A campanha do ministro Rubens Ricupero pela nota fiscal esbarrou no pior obstáculo. Sem fiscalização, a campanha em pouco ou nada resultará. E os auditores fiscais decidiram ontem que a fiscalização só começará no dia seguinte à eleição do futuro presidente.
Ao examinar a propaganda da campanha, os auditores fiscais concluíram que ela tende a se confundir com propaganda eleitoral. Os cartazes, em particular, a serem exibidos no comércio de todo o país, pareceram-lhes muito mais dedicados ao país do real do que à nota fiscal e à evasão. Até nas cores encontraram muito mais identidade com as do PSDB do que com as cores nacionais. Embora divididos entre os dois principais candidatos, não querem comprometer-se, como classe funcional, com a campanha de um ou de outro.

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