São Paulo, sexta-feira, 2 de setembro de 1994
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Pregação de ministro

NELSON DE SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

Talvez esteja cedo para falar, mas a impressão é de que Rubens Ricupero, o comunidador, vai vencendo o IPC-r. Ele voltou a ocupar televisão e rádio, em mais um aniversário do plano, e seguiu martelando que o índice pode ser oficial mas não é a inflação real, que seria bem menor.
Não foi cadeia obrigatória, mas bem que lembrava, pois o ministro surgiu de todo lado, ontem, do Bom Dia Brasil ao Jornal da CBN ao Jornal Nacional:
– Foi só um índice em mais de 13 ou 14 que há no Brasil.
– Todos os demais índices dão por volta de 2%.
Daí para atacar o que o próprio ministro gosta de definir como profetas da desgraça –resumindo, Lula– vai bem pouco:
– Toda essa pregação do IPC-r não vai pegar, porque as pessoas sabem a verdade.
– Eu acho incrível que alguém se alegre com um fato que possa parecer negativo. É incrível que hoje se chegue a isso.
Fernando Henrique Cardoso, ao mesmo tempo, dizia coisa muito parecida, quanto ao índice, quanto ao profeta Lula. Uma afinidade que talvez explique o único fora do ministro, ontem. Argumentava ele que os reajustes dos salários não podem ser mensais porque o trabalhador perde e aí:
– Em vez de ganhar a eleição... (uma pausa) da inflação, ele vai simplesmente agravar o aumento dos preços e aquilo vai anular o aumento que ele conseguiu.
Mudando de assunto
Mais à noite, nos telejornais, o ministro tinha saído da defensiva. E com plena cobertura.
A primeira manchete do TJ: "Promessa de Rubens Ricupero: se o preço do petróleo cair o da gasolina baixa no Brasil."
Rubens Ricupero, no TJ: "Seria realmente fantástico poder, pela primeira vez em 50 anos, baixar o preço da gasolina."
Ricupero, no Jornal Nacional: "Eu vou abrir as importações, porque aí, se o sujeito aumentar, ele quebra a cara."
Nem abrir as importações, nem baixar o preço da gasolina, nada é certo. É promessa. Só é certo que o IPC-r virou notícia velha.
Profeta da desgraça
No TJ, o âncora Boris Casoy perguntou a Lula se, caso eleito, "o real continua".
A resposta de Lula, para variar, foi bem próxima de nada: "Veja, como plano, ele tem que ser feito ainda." Depois enrolou, enrolou. Lula, o profeta da desgraça, não elogia o real. Não pode.

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