São Paulo, sexta-feira, 2 de setembro de 1994
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Bolsa fecha em alta e BC baixa os juros

JOÃO CARLOS E OLIVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Um terremoto sacudiu ontem o mercado financeiro. De uma penada o Banco Central (BC) vai tirar, aos poucos, de forma gradual até outubro, aproximadamente R$ 20 bilhões da economia.
Foi uma medida clássica de política monetária –o BC elevou o compulsório sobre depósitos a prazo e sobre a poupança.
Na prática, ele enxugou a liquidez do setor privado e tornou o juro do crédito e do crediário uma função da demanda. Quem não se endividou antes vai se arrepender.
Isto é, com menos recursos para emprestar (menor oferta), o juro (custo do dinheiro) vai variar conforme a necessidade de crédito do setor privado. Quanto maior a necessidade, maior a taxa.
O movimento de alta dos juros não é ilimitado. O juro sobe até que fique proibitivo. Aí, a demanda cai e o mercado se equilibra.
Este movimento do juro privado, porém, não será acompanhado pela taxa paga pelo BC.
Ou seja, o governo conseguiu conter o crédito, que alimentava o consumo, sem onerar o lado fiscal (sem obrigá-lo a pagar taxas maiores). O Tesouro, afinal, continua sem dinheiro.
Tanto que, ontem, sem surpresa, o BC fixou a taxa-over em 5,25% ao mês até o dia 8, o que representa um juro efetivo de 3,74% (menor do que o praticado no mês anterior). O BC atuou por três vezes no mercado. A taxa média ficou, segundo a Andima, em 5,26%.
As consequências das medidas adotadas são as seguintes: 1) aumenta o juro no crédito para pessoas físicas e empresas; 2) as dificuldades de financiamento encontradas por pequenas instituições e bancos estaduais vão se agravar; 3) vai se abrir um fosso entre os juros pagos no Selic ( títulos públicos) e no CDI (títulos privados); 4) com dinheiro cativo, o governo poderá vender menos títulos; 5) no limite, o BC abriu o caminho para deixar de atuar todo dia no overnight –para balizar as taxas e a liquidez.
Ontem, como o dinheiro ainda não saiu do sistema, as taxas de juros do CDI (interbancário) ficaram em 5,26%.
Nenhum banco cortou o crédito para outras instituições –mas discutiu, internamente, quais pedais de freio serão apertados. A estratégia de muitos bancos foi tomar dinheiro emprestado no CDI –o custo ficou "baixo".
As repercussões do terremoto fizeram despencar as cotações do dólar (veja matéria na página 3).
Nas Bolsas, foi um novo dia de alta. A Bolsa paulista subiu 2% e a carioca, 3,3%. O mercado continua apostando que uma vitória eleitoral de FHC vai trazer dólares para o Brasil.
(João Carlos de Oliveira)
JUROS
Curto prazo
Os cinco maiores fundões registravam rentabilidade diária de 0,162% no último dia 30. A taxa média do over, segundo a Andima, foi de 5,26% ao mês. No mercado de Depósito Interbancário (CDIs), a taxa média foi de 5,26% ao mês.
CDB e caderneta
As cadernetas rendem 2,5600% no dia 2 de setembro. Os CDBs prefixados para 33 dias pagaram entre 48% e 49% ao ano.
Empréstimos
Empréstimos por um dia ("hot money") contratados ontem: as taxas variaram de 5,25% ao mês a 5,35% ao mês. Para 33 dias (capital de giro): as taxas variaram entre 48,90% e 57,00% ao ano.
No exterior
Prime rate: 7,75%. Libor: 5,25%.
AÇÕES
Bolsas
São Paulo: o índice fechou a 54.369 pontos com alta de 2,0% e volume financeiro de R$ 366,735 milhões. Rio: alta de 3,3% (I-Senn), fechando com 21.358 pontos e volume financeiro de R$ 42,338 milhões.
Bolsas no exterior
O índice Dow Jones da Bolsa de Nova York fechou a 3.901,44 pontos. Em Tóquio, o índice Nikkei fechou com 20.642,93 pontos. Em Londres, o índice Financial Times fechou a 2.509,40 pontos.
DÓLAR E OURO
Dólar comercial (exportações e importações): R$ 0,882 (compra) e R$ 0,883 (venda). Segundo o Banco Central, o dólar comercial foi negociado, na média, por R$ 0,883 (compra) e por R$ 0,885 (venda). "Black": R$ 0,900 (compra) e R$ 0,910 (venda). "Black" cabo: R$ 0,905 (compra) e R$ 0,915 (venda). Dólar-turismo: R$ 0,88 (compra) e R$ 0,91 (venda), segundo o Banco do Brasil.
Ouro: baixa de 0,8%, fechando a R$ 11,17 o grama na BM&F, movimentando 1,38 toneladas.
No exterior
Segundo a agência "UPI", em Frankfurt, o dólar foi cotado a 1,5765 marco alemão. Em Tóquio, o dólar foi cotado a 100,01 ienes. Em Londres, a libra foi cotada a US$ 1,5445. A onça-troy (31,104 gramas) de ouro na Bolsa de Nova York fechou a US$ 386,90.
FUTUROS
No mercado de DI (Depósito Interfinanceiro) da BM&F, a projeção de juros para setembro fechou a 3,74% ao mês, a 3,86% para outubro e a 3,93% para novembro.
No mercado futuro de dólar, a cotação foi de R$ 0,908 para 30 de setembro.
O índice Bovespa no mercado futuro para outubro fechou a 56.900 pontos.

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