São Paulo, sexta-feira, 2 de setembro de 1994
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Punição monetária não diminuirá violência

DULCIDIO WANDERLEY BOSCHILIA
ESPECIAL PARA A FOLHA

O que deve imperar no conceito da CBF (Confederação Brasileira de Futebol) no que se refere aos atos dos jogadores dentro de campo é a aplicação de punições disciplinares e não de punições pecuniárias.
Você não pode pagar com dinheiro uma infração cometida durante uma partida de futebol, seja um ato de indisciplina ou uma agressão contra outro atleta.
Esta medida, adotada pela CBF, -que eu considero uma operação "caça-níquel", –tende a tornar o jogador mais indisciplinado, já que não é ele o maior prejudicado no momento da punição. É o clube que vai pagar pela indisciplina, com uma quantia em dinheiro.
Esta atitude leva à desmoralização do cartão amarelo –o que, de certo modo, já vinha acontecendo. Desse jeito, poderemos, no futuro, ver até mesmo o cartão vermelho convertido em algum tipo de multa, que atinge os clubes, mas protege o autor da infração.
Enquanto a imprensa, o torcedor e a polícia clamam pela não-violência, a CBF toma um caminho diferente. Parte para arrecadação de fundos, que causa o desprestígio dos árbitros, clubes e da própria disciplina em favor de valores monetários.
Se uma medida como esta é aplicada em outros países, é um remédio que não serve para as nossas doenças. A própria formação do jogador de futebol brasileiro, a sua maneira de se comportar e as suas reações dentro de campo são completamente diferentes das que existem em outros lugares. Nós somos mais indisciplinados –com raríssimas exceções– justamente por não se coibir a violência dentro e fora de campo.
Sempre fui contra e usava muito pouco o amarelo. Combati o seu uso desde 1970 e acho que apenas uma vez cheguei a aplicá-lo cinco vezes durante um mesmo jogo.
Como recurso para advertências, ele se mostrou útil por estabelecer uma comunicação entre juízes e jogadores de países e línguas diferentes em jogos internacionais.
O juiz não precisava mais falar com o jogador e avisá-lo de que estava sendo advertido. Mas nos campeonatos nacionais, em que todos falam a mesma língua, tal sinalização se tornou desnecessária.
A nova determinação da CBF também prejudicou a aplicação do cartão vermelho, que passou a ser distribuído aleatoriamente.
Como consequência, os árbitros estão deixando a violência e a indisciplina correrem soltas. Sabem que o amarelo perdeu sua força e, quando têm que tomar uma atitude mais severa, mostram o vermelho.
Na sua grande maioria, eles ainda aprendem a trabalhar com a nova norma e a tendência é este quadro piorar ainda mais. Eles estão se perdendo durante a partida e não sabem mais diferenciar um caso de expulsão de outro em que a simples advertência, mesmo verbal, seria suficiente.
Espero que esta norma seja revista rapidamente. Sou adepto da punição imediata no caso de indisciplina. Mas não com um pagamento, em que os favorecidos são os cofres da CBF e o punido é o clube.
O jogador, que deveria ser o alvo da punição para que não tomasse a mesma atitude no jogo seguinte, sai ileso. Só espero que as federações não copiem a atitude tomada pela CBF para este Campeonato Brasileiro, para o bem da disciplina e dos próprios campeonatos estaduais.

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