São Paulo, sexta-feira, 2 de setembro de 1994
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Para rever as leis

SILVIO LANCELLOTTI

SÍLVIO LANCELLOTTI
Evidentemente, este escriba não é contrário aos exames antidoping e não apóia, em hipótese nenhuma, o uso de produtos que estimulem, extra-naturalmente, as atividades no esporte. Ao mesmo tempo, este escriba acredita que chegou o momento de os especialistas no assunto se reunirem, internacionalmente até, para modernizarem os regulamentos correlatos e, principalmente, consolidarem as listas das substâncias efetivamente perigosas, nocivas e/ou criminosas.
E eu não me refiro, apenas, ainda, ao episódio Maradona, cujas nuanças expuseram claramente as falhas na legislação em vigor no futebol –buracos que permitem a um médico, a um dirigente ou a um curandeiro amador assassinar a carreira de um atleta sem ulteriores consequências. Sem discutir, de novo, a culpabilidade, a responsabilidade, a tolice ou a irresponsabilidade de Maradona, considero uma vergonha a Fifa não punir também a AFA, a sua federação.
Hoje eu defendo a minha tese com a ajuda de uma outra modalidade, o ciclismo, onde a tal efedrina, aliás, era comum e tolerada na década de 50. Nos estertores do Mundial realizado na Sicília, Itália, dias atrás, explodiram múltiplos escândalos, estúpidos escândalos, que podem massacrar os currículos de campeoníssimos como o italiano Gianni Bugno, o suíço Tony Rominger e o espanhol Miguel Indurain.
No xixi de Bugno se encontraram traços de cafeína, uma substância presente, claro, no comuníssimo café e, também, numa garrafa de Coca-Cola. Bugno alega ter bebericado dois expressos concentrados, tipicamente palermitanos, na véspera dos testes a que se submeteu. Houvesse ele notificado o seu médico de tal ofensa, não correria o risco de uma penalidade. Frase de Bugno: "Não passou pela minha cabeça que eu precisaria relatar o café como se fosse um medicamento fatal".
Com Rominger e com Indurain o problema parece bem mais patético. Ambos são alérgicos ao pólen –aliás, coisa comum entre os ciclistas de estrada, que praticam os seus treinamentos e as suas competições em pleno campo e nas florestas. Ambos ingerem um remédio vendido livremente em quase toda a Europa, sem a necessidade de receita, o Ventolin, ao preço de US$ 5. Na França, todavia, o Ventolin dá cadeia. Rominger e Indurain podem correr no mundo inteiro, menos na França.
Até o Comitê Olímpico Internacional está se movimentando contra tal bobagem. Inclusive por causa do seu rabo preso. Semanas atrás se denunciou que, nos Jogos de 84, em Los Angeles, cinco superatletas foram flagrados no antidoping por abuso de esteróides anabolizantes. Um funcionário do Comitê, porém, sabe-se lá por que razão, atirou os fracos com as amostras num incinerador...

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