São Paulo, sexta-feira, 2 de setembro de 1994
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Protestantes matam católico na Irlanda

SÉRGIO MALBERGIER
DE LONDRES

Um católico foi assassinado ontem à noite em Belfast menos de 24 horas após o IRA (Exército Republicano Irlandês, de maioria católica) ter declarado cessar-fogo.
A ala militar da Associação de Defesa do Ulster, um grupo radical protestante, assumiu responsabilidade pelo ataque.
Paramilitares protestantes podem ser responsáveis por outro tiroteio na capital da Irlanda do Norte, informou a polícia.
Vizinhos do homem assassinado ontem disseram que o crime pode prejudicar as negociações de paz para a região.
Na tarde de ontem, centenas de protestantes saíram às ruas de Belfast para protestar contra supostas concessões britânicas ao IRA.
Desconfiança dos protestantes (56% da população da Irlanda do Norte) de que o premiê John Major fez acordo secreto com o IRA foi reforçada pela transferência de quatro membros do IRA de uma prisão na Grã-Bretanha para a Irlanda do Norte.
Segundo o diretor do sistema carcerário, a transferência já estava acertada desde o começo de agosto. Major afirmou desconhecer a transferência, se disse }abismado com a decisão e pediu abertura de inquérito sobre o assunto.
Londres e os nacionalistas da Irlanda do Norte continuaram o que está sendo chamado de "batalha semântica" sobre o anúncio do fim do uso da violência feito pelo IRA.
O governo quer que o IRA diga que o fim da violência é "permanente".
Para a República da Irlanda e o Sinn Fein (braço político do IRA), a declaração significa o fim permanente da violência. Isso abriria caminho para o Sinn Fein negociar com Londres e Dublin o futuro da Irlanda do Norte.
Ontem, o número dois do Sinn Fein, Martin McGuiness, disse que o cessar-fogo significa }a cessação total das operações militares sob qualquer circunstância. McGuiness pediu para Major "não ficar preso a uma palavra".
Mas o secretário britânico para a Irlanda do Norte, Patrick Mayhew, não se satisfez. "É uma coisa tão simples de esclarecer, de dizer. Quando as pessoas se recusam, isso cria dúvidas", disse ele.
Analistas políticos acham difícil o IRA usar abertamente a palavra "permanente", como quer o governo, para não abalar sua imagem de organização implacável.
Já para Major, aceitar a declaração do IRA imediatamente e iniciar negociações com o Sinn Fein a seguir seria um gesto que revoltaria muitos britânicos, após 25 anos de conflitos na Irlanda do Norte que deixaram 3.168 mortos.
O mais provável para os analistas é que o premiê irlandês, Albert Reynolds, dê garantias a Major de que o cessar-fogo é permanente.

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