São Paulo, domingo, 4 de setembro de 1994 |
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Meus pais cheiram e meu filho será bandido, diz menor
EDNA DANTAS
Sonho de G., 17, é ser o 'segundo homem' de quadrilha de traficantes G., 17, é gerente e braço direito do traficante Jorge Luiz, da favela de Acari (zona norte). Diz que quando sair do Instituto Padre Severino vai voltar ao tráfico. Afirma que quer ser pai e diz que seu filho "também será bandido". Folha - Você já trabalhou como "vapor"? G., 17 - Com o Jorge Luiz. Antes de chegar a gerente você tem que fazer um monte de coisa. Eu fui fogueteiro, 'vapor' e segurança. Mas queria ser gerente. Folha - Como é ser gerente de uma boca de fumo. G. - Eu fico num barraco, cercado por soldados, distribuindo o pó que o Jorge Luiz passa. Folha - Quanto você ganhava por dia com isso? G. - Muita cocaína e R$ 200. Uma parte eu cheirava, a outra dava aos seguranças e 'vapores'. Folha - Você começou a cheirar om quantos anos? G. - Com dez anos. Folha - Qual o seu objetivo, após ter passado por quase todos os postos do tráfico? G. - Quero ser o segundo dono, depois do Jorge Luiz. Ele me deu uma casa lá em Acari, mas eu não moro lá, não. Eu moro em Jorge Turco (favela da zona norte). A polícia está dando trabalho. Todo dia eles sobem e pedem dinheiro. Folha - Você já matou? G. - Matei um civil pra me defender. Folha - Você tem filho? G. - Vou ter. Minha mulher está presa e só deve ter filho no início do ano que vem. Tem 14 anos. Folha - Trabalhava com você? G. - Não. Trazia maconha do Paraguai. Meu filho vai ser bandido também. A vida não vale nada. Minha mãe cheira e meu pai também. Aprendi a cheirar na rua, com a galera da Candelária. (ED) Texto Anterior: 'Comecei cheirar com oito anos' Próximo Texto: Família vendia cocaína e LSD Índice |
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