São Paulo, domingo, 4 de setembro de 1994 |
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'Comecei cheirar com oito anos'
EDNA DANTAS Folha - Como você entrou nessa vida?J. - Saí de casa e fui pra rua. Aí comecei a cheirar, a roubar. Depois, num botequim, um cara me deu revólver. Aí comecei assaltar. Folha - No tráfico, o que você fazia? J. - Fazia segurança do dono. Carregava mochila com cocaína, granadas e uma pistola. Folha - Como era o seu dia-a-dia com o traficante? J. - Eu ficava com ele. Às vezes ficava a noite toda por causa do pó, que não deixava dormir. Eu cheirava também, sou viciado. Folha - O que você ganhava? J. - Se em um dia ele recebesse 'um bilhão', 2% da fatura era meu. Folha - O que você fazia? J. - Era segurança dele. Ele gostou de mim, mas eu não gostava muito daquela vida. Um dia cheguei pra ele, tirei a mochila e falei: não dá mais, quero ficar na rua mesmo. Ele falou tudo bem, que eu podia voltar quando quisesse. Folha – Quanto tempo você trabalhou com ele? J. - Fiquei lá quase um ano. Folha - A vida é melhor trabalhando com o dono do morro? J. - Pô, a gente tem mais prestígio. As mulheres ficam a fim. A gente tá sempre com dinheiro, com arma, aí elas dão mole. Folha - Quantos anos você tinha nessa época? J. - Catorze. Mas comecei a cheirar com oito anos. Folha - Você é viciado? J. - Sou. Vou pedir ao doutor Siro pra me mandar pra clínica. Folha - Você tem família? J. - Meu pai não quer saber de mim. Só a minha mãe que me ajuda, que faz tudo por mim. Folha - Tem irmãos? J. - Dois. Minha avó sustenta a família da minha mãe. Quando vi que o dinheiro não tava dando pra nada, vi que esta vida não estava dando certo. Aí o 'Sexta-Feira 13' me levou pro Sumaré... Folha - Quem é ele? J. - Era um policial, agora é um exterminador. Me levou pro Sumaré, me mandou correr no mato e atirou. Foi Deus que me protegeu. Não fui baleado, me abaixei. (ED) Texto Anterior: Drogas monopolizam Vara dos Menores Próximo Texto: Meus pais cheiram e meu filho será bandido, diz menor Índice |
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