São Paulo, domingo, 4 de setembro de 1994
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Cidade cria arquitetura antimendigo

ANTONIO ROCHA FILHO
DA REPORTAGEM LOCAL

O crescimento do número de moradores de rua em São Paulo –que eram 3.300 em 92 e hoje podem chegar a 4.000- fez surgir uma arquitetura "antimendigo".
Construir prédios sem marquises ou cercá-las com grades, passar óleo queimado na entrada da loja ou instalar chuveiro que molha o chão à noite são as inovações para afugentar moradores de rua.
O edifício do Banespa na praça da República (centro), planejado pelo arquiteto Carlos Bratke, é um exemplo de prédio antimendigo. Sua fachada foi construída sem marquise, que poderia servir de abrigo aos indigentes.
"O centro à noite está morto. A ausência de movimento facilita a invasão dos moradores de rua", disse Bratke, 51.
"A maioria de nossas agências não tem marquises para evitar aglomeração de indigentes. Nas que têm jardins, colocamos grades para evitar invasão", afirma o engenheiro do Banespa Luiz Nagao.
Até a prefeitura está dificultando o acesso de mendigos às áreas cobertas. Grades e canteiros estão sendo colocados sob os viadutos dos Bandeirantes, no cruzamento das avenidas dos Bandeirantes e Vereador José Diniz, e 11 de Junho (avenida Rubem Berta com José Maria Whitaker), zona sul.
Segundo a Administração Regional da Vila Mariana, o objetivo é evitar a invasão de sem-teto.
Lojas da região central criaram meios de expulsar sem-teto. Na DC Kits e Peças, na rua Barão de Campinas (centro), o porteiro Joel Gonçalves Barbosa joga óleo queimado no piso e na porta de ferro três vezes por semana. "É para espantar quem dorme aqui."
Na revenda de veículos da Mesbla da avenida do Estado, a área sob a marquise foi cercada com grades. No local, segundo cálculos do padre Júlio Lancellotti, dormiam até 300 sem-teto por noite.
A direção da Mesbla não quis comentar o assunto.
No Teatro Cultura Artística, no centro, há um sistema de canos que esguicha água sob a marquise da 0h às 10h, a cada duas horas.
Segundo Paulo Kalux, 39, administrador do teatro, o chuveiro deu "bons resultados".
"Havia uma aglomeração grande de indigentes após o fechamento do teatro. Implantei o sistema, que não machuca ninguém. A água só molha o chão, não as pessoas."
LEIA MAIS Sobre arquitetura antimendigo na pág. 4

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