Folha de S.Paulo - Entenda as discrepâncias

São Paulo, domingo, 4 de setembro de 1994

Entenda as discrepâncias

O IPC-r, indexador de salários na data-base, ficou em 5,46% em agosto. O último IPC divulgado pela Fipe foi de 2,86%. Afinal, qual é a inflação do mês?
Na realidade, nenhum dos dois mostra a evolução dos preços em agosto. Ambos tiveram sua coleta de preços encerrada bem antes do dia 31. Tanto assim que foram divulgados há uma semana ou mais.
O IPC de 2,86% da Fipe é o da chamada terceira quadrissemana de agosto, medido apenas em São Paulo. Os preços foram pesquisados até o dia 23. No caso do IPC-r, a coleta de preços se encerrou no dia 15 e inclui 11 capitais.
As taxas refletem a comparação dos preços médios em 30 dias com a média dos 30 dias anteriores. Ao todo, são 60 dias de pesquisa, incorporando, ainda, o final de junho, quando muitos preços subiram acima da URV.
No critério de média contra média, é normal que a taxa apresente resíduos do que ocorreu com os preços nos 30 dias anteriores.
O IPC da Fipe comparável ao IPC-r de agosto é o da segunda quadrissemana, que deu 4,50%.
Se forem acumuladas as duas taxas de cada um dos índices, o IPC da Fipe atinge 10,52% e o IPC-r, 11,87%. A diferença, portanto, é bem menor, apesar das diferenças de metodologia. Para todo o mês de agosto, a Fipe espera 1,5%.
O IPC-r chegou a 5,46% por pressões isoladas, como aluguel e hortifrutigranjeiros prejudicados pela geada. Sem isso, seria de 2%.
Se na negociação da MP da URV com o Congresso o governo não tivesse aceitado um índice específico para reajustar salários e contratos, caso do IPC-r, o mercado seguiria outros, como o IPC da Fipe e o IGP, porém pesquisados até o final de cada um dos meses.
O IPC da Fipe, por exemplo, deverá acumular 8,50% nos dois primeiros meses do real –na hipótese de agosto fechar próximo a 1,5%. O IPC-r chegou a 11,87%, com uma diferença bem razoável, de 3,11%, para economia estável.

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