São Paulo, domingo, 4 de setembro de 1994
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Opções fora da renda fixa ficam restritas

FIDEO MIYA
DA REPORTAGEM LOCAL

O cenário do mercado financeiro em setembro, desenhado pelos analistas, praticamente obriga o investidor a se contentar com as baixas taxas nominais das aplicações de renda fixa –poupança, CDB e fundos, exceto os de ações.
Com o ouro e o dólar paralelo sem perspectivas de valorização no curto prazo, as principais alternativas fora da renda fixa eram as Bolsas de Valores ou fundos de ações.
Mas vários analistas desaconselham a migração para o mercado de ações nos próximos dias, apesar da alta acumulada de 48% desde a entrada do real.
Todos os analistas ouvidos pela Folha acham que a tendência de longo prazo das Bolsas de Valores é de alta, mas ressalvam que no curto prazo há fatores contrários muito fortes.
O primeiro é a reprodução da conversa reservada entre o ministro Ricupero e o jornalista Carlos Monforte, da TV Globo, nos jornais deste fim-de-semana.
Os desdobramentos políticos desse episódio podem detonar um movimento de baixa acentuada nas Bolsas, somando-se a outros fatores de queda.
O segundo fator baixista é o aumento do compulsório sobre os depósitos a prazo. Segundo Fábio de Oliveira, diretor de investimentos do Banco de Boston, haverá uma redução de liquidez que vai inibir as operações de tesouraria de bancos, corretoras e distribuidoras nas Bolsas de Valores.
A maior parte (45%) do volume financeiro da Bovespa, principal bolsa brasileira, é movimentada pelas instituições financeiras através do giro de suas carteiras e das compras de ações conjugadas com operações com opções e contratos de índice futuro.
Com a redução na disponibilidade de recursos no sistema financeiro, provocada pelo compulsório, os pequenos bancos, corretoras e distribuidoras terão dificuldade na manutenção das carteiras de ações que eram financiadas no mercado interbancário de CDI.
Isso pode gerar uma pressão vendedora nas Bolsas num momento em que os preços dos papéis estão no pico da alta acumulada nos últimos dois meses.
Segundo o consultor de investimentos Luiz Antonio Vaz das Neves, da KNA Consultores, a leitura dos indicadores gráficos dos últimos pregões têm mostrado uma forte barreira na marca dos 54 mil pontos no Índice Bovespa à vista e dos 58 mil pontos no índice futuro.
Ou seja, quando as cotações sobem e se aproximam dessas marcas, há um movimento de vendas que as derruba para baixo.
Renda fixa
O teto de remuneração das aplicações de renda fixa para pessoas físicas é o juro do CDI (Certificado de Depósito Interbancário).
Em agosto, quando o juro acumulado do CDI foi de 4,16%, a rentabilidade média dos fundos de commodities foi de 3,88% (93,27% do CDI), a dos fundos de renda fixa DI ficou em 3,91% (93,99%), a dos fundos de renda fixa em 3,35% (80,53%), a dos fundos de curto prazo em 3,22% (77,40%) e o rendimento da poupança foi de 2,64% (63,46%).
Em setembro, o juro do CDI foi projetado em 3,81% no fechamento de sexta-feira do mercado futuro de juros da BM&F.
O diretor do Boston, porém, diz que o novo compulsório sobre depósitos a prazo deve gerar um distanciamento maior entre CDI e CDB e outras aplicações.
Commodities
Diante desse cenário, Fábio de Oliveira continua recomendando o fundo de commodities como a melhor alternativa. A liquidez diária após 30 dias permite ao investidor escolher a melhor data para sacar.
Ela pode ser utilizada para aproveitar outras oportunidades melhores de investimento ou para aguardar a virada da Ufir –que a partir de setembro é corrigida apenas no primeiro dia útil de cada mês– e reduzir a tributação do IR na fonte.
Os fundos de renda fixa e DI também proporcionam boa rentabilidade, mas os resgates podem ser feitos somente a cada 28 dias.
O rendimento da caderneta de poupança com "aniversário" no dia 1º, já divulgado, é de 2,95%. Esse rendimento corresponde a 77,43% do CDI projetado de 3,81%. A rentabilidade da poupança somente será melhor que a do fundo de commodities se a Ufir variar menos que 1%.

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