São Paulo, domingo, 4 de setembro de 1994
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Aperto no crédito deve durar até próximo ano

GUSTAVO PATÚ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O arrocho no crédito promovido quinta-feira pelo governo só deverá ser flexibilizado pelo próximo presidente da República, em 1995. Até lá, o consumo continuará sendo vigiado de perto.
As medidas restritivas impostas pelo Banco Central foram concebidas para evitar uma explosão de consumo em dezembro, mês das festas de final de ano e do recebimento do 13º salário.
A preocupação não é apenas com o consumo, mas com o crescimento do volume de dinheiro em circulação na economia, tradicional nas viradas de ano.
Nos últimos anos, mesmo com a economia desaquecida, o crescimento do total de moeda em circulação nos meses de dezembro tem oscilado entre 20% e 40% em dólar, na comparação com os meses anteriores.
Se isso se repetir este ano, será o suficiente para estourar os limites de emissão de reais estabelecidos pelo Plano Real. Até o final do ano, o volume de emissões médias não poderá ultrapassar R$ 10,2 bilhões.
Hoje, a emissão média já chegou à casa dos R$ 7,7 bilhões, acima dos R$ 7,5 bilhões previstos até setembro. Por isso, o governo foi obrigado a recorrer à margem de 20% permitida pelo Plano Real.
Segundo a MP (medida provisória) do real, as emissões não deveriam chegar a R$ 8,5 bilhões até o final do ano. Mas é certo que será novamente utilizada a margem de 20%.
O crescimento do consumo, acompanhado do aumento de dinheiro em circulação na economia, praticamente deixa descartada a possibilidade de abrandamento do arrocho monetário imposto pelo BC.
Logo no lançamento do real, foi elevado de 48% para 100% o recolhimento dos recursos captados pelos bancos em contas correntes. Foi criado também um recolhimento de 20% sobre os depósitos a prazo.
As medidas deveriam segurar o crédito oferecido pelos bancos, mas esta semana o BC foi obrigado a estender para 30% o recolhimento compulsório sobre o total de depósitos a prazo (CDBs e letras de câmbio, por exemplo). Antes, os 20% eram recolhidos sobre a captação adicional à posição do final de junho.
Os bancos têm pressionado o BC a flexibilizar o recolhimento sobre depósitos à vista. Mas, segundo a interpretação de técnicos do BC, as medidas adotadas quinta-feira tornam remota essa possibilidade.

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