São Paulo, domingo, 4 de setembro de 1994
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Biodiversidade ; O fim dos índios ; O perfil do candidato ; Pilatos ; Falsa ficha do PT ; Não à demagogia ; Mudanças no país ; Satyros

Biodiversidade
"Fiquei estarrecida com o texto publicado por Isaias Raw, intitulado 'Biodiversidade ou biodiversionismo' na edição de 2/09 da Folha. O texto apresentado é inconsequente, pois representa uma posição radical de alguém que tenta destruir uma das linhas de pesquisa mais promissoras desenvolvida neste país –o estudo da nossa biodiversidade, sem dúvida a maior de todo o globo. Além disso, o texto é repleto de dados incorretos, opiniões extremadas e desconhecimento científico, o que prova a total ignorância do autor sobre o tema. Lamento profundamente que uma instituição de pesquisa internacionalmente conhecida, como o Instituto Butantan, tenha como seu diretor atual um pesquisador com uma visão tão estreita e atrasada em relação à pesquisa básica desenvolvida neste país. Penso que ele teria prestado um melhor serviço à comunidade científica brasileira se tivesse utilizado o precioso espaço da Folha para defender melhores condições de trabalho e de financiamento para os pesquisadores da instituição que dirige."
Ana Maria Giulietti, professora titular do Departamento de Botânica da Universidade de São Paulo -USP (São Paulo, SP)

"Como representante dos pós-graduandos do Instituto de Biociências (USP), venho manifestar nosso completo repúdio às declarações do dr. Isaias Raw, 'Biodiversidade ou biodiversionismo' publicadas pela Folha. Em seu artigo, o dr. Isaias Raw presta um total desserviço a toda a comunidade científica brasileira. Mais que isso, manifesta completa ignorância nos aspectos mais primários da pesquisa básica e suas implicações diretas à pesquisa aplicada. O estudo da biodiversidade, longe de ser uma 'diversão', fundamenta e dá subsídios às demais áreas da ciência."
Paulo Takeo Sano, representante discente no Conselho de Pós-graduação do Instituto de Biociências –USP (São Paulo, SP)

O fim dos índios
"São estarrecedoras as declarações atribuídas ao cientista político Hélio Jaguaribe. A afirmação de que 'não vai haver índio no século 21' não parece de modo algum corresponder a um juízo de um homem de ciência, mas somente a um gratuito e perigoso exercício de futurologia. Ou, pior ainda, alimenta uma suspeita de que ali o autor estaria tão-somente expressando suas convicções pessoais (e altamente questionáveis em termos éticos)."
João Pacheco de Oliveira, presidente da Associação Brasileira de Antropologia –Aba (Rio de Janeiro, RJ)

O perfil do candidato
"Nesses dias, a maior satisfação disponível ao cidadão está embutida na sensação táctil de virar o botão do rádio que desliga as diabrites idióticas do horário eleitoral. Eu prestaria atenção a um candidato que garantisse: 1) trabalho cinco dias por semana; 2) doação de 10% do valor do salário e mordomias à caridade legítima; 3) inventário dos bens antes e depois da gestão; 4) auditoria independente dos itens 1 a 3."
Hanns John Maier (Ubatuba, SP)

Pilatos
"Fiquei indignado ao ler a reportagem 'Câmara inocenta o oitavo dos 18 acusados pela CPI' (Folha, 1/09) e constatar que, dos 361 parlamentares presentes, 17 se abstiveram, dois votaram em branco e um anulou. Acho isto uma falta de respeito com os seus eleitores e uma falta de responsabilidade. Querem passar uma imagem de não-comprometimento lavando as mãos, imitando Pôncio Pilatos."
Paulismar Alves Duarte (São Paulo, SP)

Falsa ficha do PT
"O episódio da falsa ficha de inscrição no PT, que tanto 'divertiu' os integrantes do Movimento Desperta Brasil, revelou, mais uma vez, a face mais repulsiva de nossa oligarquia. O objeto do deboche não foi, de fato, Lula ou o PT e, sim, a triste multidão dos miseráveis, rejeitados e marginais de toda sorte, que o empresariado brasileiro e seus aliados políticos de sempre ajudaram em boa parte a criar, ao longo de nossa história. O candidato que recebe de bom grado o apoio desses alegres patrões demonstra, com clareza, em benefício de quem pretende governar."
Fábio Konder Comparato, professor titular da Faculdade de Direito da USP (São Paulo, SP)

Não à demagogia
"O Brasil não tem espaço para totalitários ditadores baratos e elogios a Hitler como os que foram feitos por alguns candidatos do Prona. A sociedade sofrida não aceita mais demagogia nem espíritos controladores espelhados em ditaduras que assassinaram milhões de pessoas nos últimos 50 anos. A comunidade judaica no Brasil e certamente todos os homens de bem deste país jamais darão votos a candidatos demagogos. Nós brasileiros, queremos viver em liberdade num país de governo democrático."
Ronaldo Hazan de Gomlevsky, presidente da Federação Israelita do Estado do Rio de Janeiro -Fierj (Rio de Janeiro, RJ)

Mudanças no país
"Quando li o artigo de Caio Túlio Costa de 28/08, imaginei de que forma a imprensa pode e deve opinar para mudar! Mudar de um modo positivo, respeitando o direito do cidadão, o direito da atuação profissional. Dessa forma, a informação entra em todas as casas através da revista, do jornal, da TV. O povo sente a necessidade de se apoiar em um poder soberano. Exatamente por isso é que este povo ainda vota. É claro que não interessa se temos ou não 32 milhões de miseráveis. Com certeza, vamos ter muito mais do que este número se ficarmos sentados, esperando que alguma coisa aconteça! Em um país com 8.511.965 km2, cerveja, futebol e TV... Só mesmo uma população consciente e uma imprensa comprometida podem então mudar. Parabéns por assumir a vontade de ver este país mudar, de fato!"
Teresa Leonel (Recife, PE)

Satyros
"Foi com surpresa que deparamo-nos com a Ilustrada de 12/04, a qual trazia um trabalho do jornalista Marcelo Tas, intitulado 'Portugal: colônia do Brasil'. Em dado momento da reportagem, Tas, ao entrevistar uma vendedora de cachorros- quentes, dizia que ela teria ficado em Portugal depois da 'dissolução do grupo Os Satyros, após uma malfadada turnê pela Europa'. Tentamos ignorar as inverdades referidas no artigo, acreditando que isto não viria a afetar a continuidade do nosso trabalho. Infelizmente, até hoje temos tido alguns problemas com a publicação da referida reportagem, que vieram a culminar com o encontro de membros de nossa companhia com artistas e jornalistas brasileiros que julgavam que nossa companhia estivesse dissolvida. Nosso trabalho tornou-se ainda mais complicado, uma vez que, ao nos apresentarmos a algumas instituições no Brasil, a primeira questão levantada recai sempre sobre a integridade de nossa formação, uma vez que foram informados, através da Folha, sobre a nossa 'dissolução' (?). Gostaríamos de informar-lhes que o nosso grupo goza de boa saúde e que, após dois anos de um exílio voluntário, temos acumulado, graças ao bom deus do teatro, temporadas de sucesso em salas respeitadas e a passagem por alguns dos mais importantes festivais europeus."
Rodolfo Garcia Vázquez, do grupo "Os Satyros" (Lisboa, Portugal)

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