São Paulo, quarta-feira, 7 de setembro de 1994
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Ciro admite o uso da máquina, mas diz que foram 'imprudências isoladas'

FERNANDO GODINHO
LUCAS FIGUEIREDO

FERNANDO GODINHO; LUCAS FIGUEIREDO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O novo ministro da Fazenda, Ciro Gomes, admitiu ontem que houve uso da máquina oficial a favor do candidato do PSDB à Presidência, Fernando Henrique Cardoso.
Ele criticou o seu colega das Minas e Energia, Alexis Stepanenko, por ter redigido bilhetes pedindo a priorização de obras que supostamente favoreceriam FHC.
Em entrevista à Folha, ele disse que os bilhetes "não são éticos" e que os considera como um exemplo do uso da máquina do governo na campanha presidencial.
Foi a seguinte a pergunta da Folha: "O sr. concorda que houve casos de uso da máquina do governo nesta campanha, como no episódio dos bilhetes do ministro Alexis Stepanenko?"
Ciro respondeu: "Houve. Não havia uma deliberação do governo para se fazer isto. Foram imprudências isoladas, que o presidente prontamente rechaçou, e, certamente, servirão de exemplo para todo agente público".
Lula
Ciro também disse à Folha que vai chamar o candidato do PT à Presidência da República, Luiz Inácio Lula da Silva, para conversar sobre o uso da máquina administrativa do governo na campanha presidencial.
"Vou conversar com ele sobre este assunto assim que assumir o cargo. O Lula tem boa-fé", disse. Ele toma posse no cargo de ministro da Fazenda hoje à tarde.
Ciro vai argumentar com Lula que é impossível paralisar o governo federal por causa das eleições e que o plano econômico deve ser comandado por pessoas que tenham afinidade política com o governo.
"Se o Lula fosse o presidente, ele não chamaria o Fiuza (deputado Ricardo Fiuza, do PFL pernambucano) para conduzir a economia durante sua sucessão".
Ciro Gomes nega que, como novo ministro da Fazenda, já tenha feito contatos com o candidato FHC ou com qualquer pessoa da campanha tucana.
Anteontem à noite, o presidente nacional do PSDB e um dos coordenadores da campanha de FHC, Pimenta da Veiga, chegou ao Hotel Naoun Plaza para se encontrar com Ciro. Ao notar a presença de jornalistas, desistiu do encontro.
Ciro desconversou: "Se o Pimenta quiser falar comigo, ele telefona, e vai ser à luz do dia. Estou licenciado do PSDB e não vou a palanque, não vou pedir votos. Não vou aceitar este tipo de patrulhamento".
Ele disse que não vai adiar seus planos de estudar em Harvard (EUA) no ano que vem, mesmo que o PSDB vença a eleição.
"Estou convencido que minha tarefa vai até o dia 31 de dezembro, saindo com o presidente Itamar", afirmou.
Caso FHC seja vitorioso, o novo ministro é contrário à formação de um novo partido político –a partir do PSDB– que dê sustenção ao futuro presidente.
Para ele, é preciso dar "tradição" aos partidos que se formaram. "Precisamos deixar o tempo passar e os partidos se sedimentarem", avalia.
O novo ministro elogiou seu antecessor, Rubens Ricupero.
"Ele chorou na televisão quando se referiu à família. Cometeu um gesto de grande humilhação pessoal, quase como quem quer pagar um pecado. Isto comoveu as pessoas", disse.
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sobre Ciro Gomes às págs. 1-4 e 1-6.

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